"Só a mulher e os dois filhos sabem que tem VIH. Anda há 18 anos a escondê-lo. Tem irmãos com quem se dá bem, sobrinhos - ninguém sabe. “Não tenho coragem de lhes dizer, podem compreender ou não compreender.” Nunca avançaram com o processo da mulher e, por isso, ela nunca recebeu a indemnização a que teria direito. Recebeu ajuda psicológica e faz a medicação, como ele, sempre arranjando formas de ocultar aquelas suas consultas especiais quando tem que lá ir durante o horário de expediente. No trabalho está fora de questão contar o que seja, ainda mais trabalhando ela com crianças e tomando silenciosamente todos os cuidados para que não corram riscos. Os comportamentos de pessoas com quem tem que lidar confirmam--lhe a necessidade de esconder. Recebe olhares das analistas quando vai fazer exames - “Olham para mim como pessoa com VIH e não como hemofílico” -, da farmacêutica onde vai buscar os medicamentos. Catalogam-no como homossexual, toxicodependente ou então alguém que recorre a prostitutas. Da última vez que recebeu esses olhares da farmacêutica teve que lhe dizer que não era desses. “Fez-me uma festinha na cara e pediu-me desculpa.” “Vou tentando sobreviver.”
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