sábado, março 31, 2007

O Sentimento de Si

Os eus não são núcleos isolados de consciência, alojados dentro de cabeças individuais, mas estão integrados num espaço de interpessoalidade.

È este contexto de interpessoalidade relacional que possibilita o EU.

Em vez de uma identidade singular e unitária, tem mais sentido falar de um Eu ( um self) emergente, contextual, discursivo, múltiplo e relacional (Wetherell e Maybin, 1996).

sexta-feira, março 30, 2007




O conhecimento moral não tem uma natureza diferente da do conhecimento em geral: “a cognição moral e social, bem como o comportamento moral e social são actividades do cérebro, não menos que qualquer outro género de cognição e comportamento.
Não é aceitável considerar que “a verdade das proposições morais se fundamenta em algo diferente do modo como o universo material está estruturado”... Seria absurdo acreditar que existe alguma forma meta-empírica de conhecimento moral ou de acesso a ele. Por conseguinte, “as verdades morais são basicamente tão fortes e objectivas como quaisquer outros géneros de verdades, mas esta objectividade não se fundamenta na razão pura ou em qualquer outra base não empírica. Ela fundamenta-se de forma muito semelhante ao modo como se fundamenta a objectividade dos factos científicos”. (…)Isto tem como imediata consequência que qualquer alteração na concepção da estrutura da ciência, nomeadamente quanto ao modo como o nosso conhecimento científico emerge dos factos empíricos, implica automaticamente uma modificação semelhante na concepção da génese e natureza do conhecimento ético. Foi precisamente uma tal alteração que aconteceu com o desenvolvimento das ciências cognitivas, as quais proporcionaram, como sublinha Churchland, uma nova maneira de entender como o cérebro humano chega à compreensão e formulação das proposições científicas. Consequentemente, obtivemos também, com a mesma revolução cognitiva, e segundo o mesmo autor, uma nova maneira de entender como o cérebro causa o comportamento ético e chega à formulação de proposições éticas, sem que estas tenham, por si mesmas, qualquer papel causal naquele comportamento. “
Texto de Alfredo Dinis

A ler: Paul Churchland, “Neural representation of the social world”, em L. May, M. Friedman, A. Clark (eds.), Mind and Morals. Essays on Ethics and Cognitive Science, Cambridge, Mass: MIT Press, 1996

Paul Churchland, A Neurocomputational Perspective. The Nature of Mind and the Structure of Science, Cambridge MA: MIT Press, 1989, p. 297.


Direitos Humanos

"(...) o debate sobre universalismo e relativismo cultural, trata-se de um debate intrinsecamente falso, cujos conceitos polares são igualmente prejudiciais para uma concepção emancipatória de direitos humanos. Todas as culturas são relativas, mas o relativismo cultural enquanto atitude filosófica é incorrecto.
Todas as culturas aspiram a preocupações e valores universais, mas o universalismo cultural, enquanto atitude filosófica, é incorrecto.
Contra o universalismo, há que propor diálogos interculturais sobre preocupações isomórficas. Contra o relativismo, há que desenvolver critérios políticos para distinguir política progressista de política conservadora, capacitação de desarme, emancipação de regulação.
A segunda premissa da transformação cosmopolita dos direitos humanos é que todas as culturas possuem concepções de dignidade humana, mas nem todas elas a concebem em termos de direitos humanos. Torna-se, por isso, importante identificar preocupações isomórficas entre diferentes culturas. Designações, conceitos e Weltanschaungen diferentes podem transmitir preocupações ou aspirações semelhantes ou mutuamente inteligíveis.

A terceira premissa é que todas as culturas são incompletas e problemáticas nas suas concepções de dignidade humana. A incompletude provém da própria existência de uma pluralidade de culturas, pois, se cada cultura fosse tão completa como se julga, existiria apenas uma só cultura. A ideia de completude está na origem de um excesso de sentido de que parecem enfermar todas as culturas, e é por isso que a incompletude é mais facilmente perceptível do exterior, a partir da perspectiva de outra cultura. Aumentar a consciência de incompletude cultural até ao seu máximo possível é uma das tarefas mais cruciais para a construção de uma concepção multicultural de direitos humanos.

A quarta premissa é que todas as culturas têm versões diferentes de dignidade humana, algumas mais amplas do que outras, algumas com um círculo de reciprocidade mais largo do que outras, algumas mais abertas a outras culturas do que outras. (...)"
Boaventura de Sousa Santos

Direitos Humanos


Fotografia - Crinças judias em
Birkenau
"Na forma como são agora predominantemente entendidos, os direitos humanos são uma espécie de esperanto que dificilmente se poderá tornar na linguagem quotidiana da dignidade humana nas diferentes regiões do globo. Compete à hermenêutica diatópica (…) transformá-los numa política cosmopolita que ligue em rede línguas nativas de emancipação, tornando-as mutuamente inteligíveis e traduzíveis. Este projecto pode parecer demasiado utópico.
Mas, como disse Sartre, antes de ser concretizada, uma ideia tem uma estranha semelhança com a utopia. Seja como for, o importante é não reduzir o realismo ao que existe, pois, de outro modo, podemos ficar obrigados a justificar o que existe, por mais injusto ou opressivo que seja. "

Boaventura Sousa Santos

Numa semana em que um partido de extrema direita, animado pelo resultado de um patético concurso, fez mais uma campanha pública de xenofobia contra os imigrantes, é importante saber que existe um outro lado – o das pessoas que trabalham voluntariamente em associações de saúde para promover a justiça num mundo que se quer diferente, sem racismo nem exclusão.

quinta-feira, março 29, 2007


Sobre a base biológica da delinquência ou da agressividade parecem não existir dúvidas.


Aliás, se a inimputabilidade por anomalia psíquica é admitida no código de direito penal, precisamente porque se considera que há certas doenças mentais que impedem as pessoas de fazerem adequadamente um juízo de valor entre o bem e o mal, ou de decidirem l agir em liberdade - de se autodeterminarem livremente de acordo com padrões morais.

E sabemos hoje, claramente que há
pessoas que são incapazes de sentir remorso ou culpa, por mais atrozes ou violentas que tenham sido as acções cometidas.

Não sabíamos até aqui que essa “anestesia moral” correspondia a lesões cerebrais específicas.

Onde está a liberdade humana, então?

Ela começa e termina nas estruturas cerebrais intactas e saudáveis, de um cérebro adulto.
Os olhos da rapariga eram absolutamente verdes .
Podes chorar, não faz mal, disse-lhe eu.
E ela contou-me tudo o que os olhos deixavam adivinhar.

terça-feira, março 27, 2007

Hospital


Diz que deus lhe fala todos os dias. Como duvidar? A voz que ouve é intensa, poderosa e cheia de segredos revelados, numa epifania íntima.
Balbucia esta convição alucinadamente perante o olhar sereno dos enfermeiros.
Difícil mesmo é dar-lhe de comer.
Acha que não precisa, pois os grandes santos não comiam.

segunda-feira, março 26, 2007

O Cérebro Moral


A notícia é um pouco superficial em termos de informação científica.

Mas noticia um facto - pesquisas actuais das neurociências demonstram o que já sabíamos - afinal, a moral é biológica e nada transcendente.
Não existem normas morais universais – o que é universal são as actuais estruturas específicas do cérebro humano resultantes da evolução.

O que não deixa de ser fascinante...

quarta-feira, março 21, 2007

Também comemos poesia



Romance Sonámbulo


Verde que te quiero verde.

Verde viento. Verdes ramas.

El barco sobre la mar y el caballo en la montaña.

Con la sombra en la cinturaella

sueña en su baranda,

verde carne, pelo verde,

con ojos de fría plata.

Verde que te quiero verde.

Bajo la luna gitana,

las cosas la están mirando

y ella no puede mirarlas.

Tias peixeiras e tios pugilistas

A coisa mais divertida destes últimos dias foi ver um "congresso"' de tias e tios supé-bem, com fatiotas respeitáveis e assim transformado num mercado do bolhão.
Uma delícia.
Todos conhecemos o discurso radical e hipocritamente moralistóide de uma certa direita, a apregoar os valores perenes da família ( de certas famílias, melhor dizendo), da vida, do marialvismo trauliteiro, da piquena canalhice brejeira disfarçada de astúcia política.

terça-feira, março 13, 2007

Utopia



Procurar reconciliação e paz supõe uma luta interior. Não é um caminho de facilidade.
Nada de duradouro se constrói na facilidade.

Roger

Da confiança no outro


Numa sociedade de competição extrema, onde está a banal confiança nos outros seres humanos? Podemos confiar nos amigos, nos amantes, nos colegas de trabalho, nos pais, nos filhos?
Pode-se confiar nos familiares, nas pessoas de quem depende a nossa segurança diária, nos estranhos, nos prestadores de cuidados?
E pode-se confiar até que ponto?
Pode–se confiar naqueles de quem a nossa vida depende, sabendo que numa sociedade globalizada e de alta complexidade a nossa vida está cada vez mais dependente de estranhos?
Onde estão os limites das pequenas traições, desconfianças e maledicências que, de tão expectáveis e comuns, fazem parte das rotinas do quotidiano, sem que sobrem pudores?

quinta-feira, março 08, 2007


Hoje é dia internacional da mulher. Aqui fica a minha homenagem á melhor invenção médica do século xx. E não me refiro á epidural.

segunda-feira, março 05, 2007

Crónica de uma morte anunciada.


Os corpos foram removidos ao fim da noite de ontem pelos bombeiros para a morgue.

Marisa RodriguesManuel Santana, 75 anos, esteve sempre ao lado da mulher, portadora de Alzheimer. Mas a doença agravou-se e as noites sem dormir deixaram-no à beira do desespero. Pediu ajuda para interná-la, mas o apelo não surtiu efeito. Ontem decidiu acabar com o sofrimento. Matou a companheira a tiros de caçadeira, na casa de ambos, em Loulé, e suicidou-se. A triste história do casal, que depois de uma vida de trabalho em França escolheu viver a reforma no sítio de Soalheira, freguesia de São Sebastião (Loulé), deixou todos em estado de choque. A doença de Olívia Nunes, de 72 anos, era conhecida, mas ninguém esperava este desfecho.Manuel era conhecido pela dedicação à companheira. "Fazia-lhe todas as vontades, ia a Loulé passeá-la, davam-se muito bem", comentavam os vizinhos. A aparente calma que se sentia à porta da moradia do casal, palco da tragédia, quebrou-se quando os corpos foram removidos pelos bombeiros. Deu lugar a muito choro e lamentos. "Ainda estou meio zonzo. Como é que o meu primo foi capaz de fazer uma coisa destas?", questionava-se Artur Mendes. "Ela de há uns tempos para cá não o deixava dormir. Passava a noite a conversar como se fosse uma criança. Ele era um santo e tinha muita paciência, mas com certeza que perdeu o tino, depois de passar muitas noites de seguida sem dormir", acredita. Olívia sofria de Alzheimer há cerca de sete anos. A doença foi piorando e as noites sem dormir levaram Manuel a pedir ajuda. Na passada sexta-feira, foi à junta de freguesia de São Sebastião. Chorava muito e os funcionários decidiram telefonar ao presidente, Horácio Piedade. "Estava desesperado que até metia dó. Disse que não aguentava mais. Queria interná-la", contou. "Contactei a acção social da câmara de Loulé e pedimos uma ambulância, que os levou ao hospital de Faro", acrescentou o autarca. No dia seguinte, ao cruzar-se com Manuel, soube que Olívia "teve alta horas depois de chegado ao hospital. Disse-me que foi medicado e já tinha conseguido dormir melhor". Ontem Manuel telefonou ao filho (o único do casal) que reside em França. Contou-lhe que ia pôr termo ao sofrimento. O filho telefonou de imediato a uma vizinha, que se deslocou à moradia do casal. Encontrou Olívia morta, deitada no sofá, e Manuel, também já sem vida, tombado entre a porta das traseiras e o quintal. A GNR recebeu o alerta às 16.30 horas, mas os militares, ao constatarem ter sido utilizada uma arma de fogo, informaram a Polícia Judiciária (PJ) de Faro, com competência para investigar este tipo de crimes. Mal os inspectores da PJ deixaram a casa, com sacos com indícios recolhidos na moradia, um familiar, um vizinho e o presidente da junta, apressaram-se a limpar o sangue com vassouras, detergentes e baldes de água. "É para evitar que o filho que vem de França sofra ainda mais ao ver isto", diziam.

sábado, março 03, 2007


"No fim deste século o planeta pode estar mais quente entre 1,5ºC e 5,8ºC. Um tal aquecimento do clima ameaça muitas partes do mundo e é passível de causar mais desastres, desde a proliferação de tempestades tropicais até ao afundamento de ilhas inteiras e regiões costeiras.A seguir vem a desertificação, a qual afecta já um terço do território mundial. No fim do séc. XX, quase mil milhões de pessoas em 110 países estavam ameaçadas pelos desertos invasores: o número pode muito bem duplicar até 2050, quando dois mil milhões podem ser afectados. A desflorestação continua também. Toda a biosfera está ameaçada pela poluição: poluição do ar e da água, oceanos e solos, poluição química e poluição invisível. Só na Ásia, o Banco Mundial calcula que o custo em vidas humanas da poluição atmosférica é de 1,56 milhões de mortes por ano."


Koïchiro MatsuuraDirector-geral da UNESCO
Andy Warhol, Artist, Nova Iorque, 1969,
Richard Avedon(© National Gallery of Australia)
A não esquecer: O nosso corpo é a nossa alma