quinta-feira, maio 31, 2012

Lobo do homem

Sinceramente não sei o que pensar  disto. 


As autoridades policiais suspeitam que  uma droga nova anda  a circular nas ruas.
Ou disto
O mundo é um lugar estranho e os humanos uns bizarros e violentos animais.

Big brother - três casamentos e um funeral

O que fará com que pessoas aparentemente inteligentes e normais exponham online factos e vivências estritamente familiares e privadas, sob a forma de video, fotografias e confissões pessoais? 
É normal que se divulguem online para todo o globo ( literalmente), acontecimentos íntimos como filmes de cerimónias de casamentos, nascimentos de crianças, processos de gestação, problemas emocionais e cenas de sexo? E atenção que não me refiro ao Facebook ou redes sociais circunscritas onde se pode sempre limitar o acesso dos visualisadores.
Refiro-me à colocação de dados abertamente online sem quaisquer restrições de acesso.
Haverá algo mais íntimo e familiar do que uma cerimónia de casamento, por exemplo?
Não há qualquer limiar de pudor, de autoprotecção e de sensibilidade?
Ou o exibicionismo pacóvio ultrapassa os limites da normal decência?

quarta-feira, maio 30, 2012

Análise actualíssima

"Quando cai um paradigma, como analisam os especialistas, tudo volta a zero, e todos necessitamos aprender novamente, precisamos ser novamente alfabetizados. (Basta o exemplo da passagem das máquinas para a informática: os pais precisam reaprender ao lado dos filhos). A geração pós-conciliar, da qual faço parte, lutou desde jovem ao descampado na esperança de uma primavera. E, como afirmou o grande observador da Igreja Católica Antônio Gramsci, as crises se produzem quando o velho mundo demora a desaparecer e o mundo novo demora a nascer. Neste claro-escuro, acrescentava ele, monstros podem aparecer. Voltar ao paradigma anterior para se proteger de ameaças e sombras é inviável e patético. Atualmente, com o agravamento da crise ambiental, monstros do passado recente se tornam menores e monstros ainda maiores nos rondam.
 "Ruptura”, palavra non grata? Ela foi cunhada na área da teoria do conhecimento como "ruptura epistemológica”, significando que contextos novos não podem ser conhecidos por meio de categorias de conhecimento tradicionais, e somente uma ruptura epistemológica prepara uma nova compreensão com uma epistemologia nova. Nesse sentido, ruptura não é uma negação, mas uma colocação em perspectiva histórica. Por exemplo, uma liturgia barroca ou uma igreja barroca fazem parte do tesouro histórico da Igreja, e paramentos barrocos tecidos em fios dourados podem ser apreciados em nossos museus para compreendermos uma época de nossa história. Mas insistir numa missa barroca é ir vivo para o museu. Assim também certas categorias de linguagem, certas leis canônicas que fizeram história, etc. Mas como a palavra "ruptura” ganhou um sentido diabólico em alguns segmentos da Igreja, talvez seja mais sábio não utilizar a palavra. A palavra adequada é "renovação”, como enfatizou Bento XVI. Segundo ele, trata-se da "reforma na continuidade do mesmo sujeito Igreja”. Os que utilizam a hermenêutica da continuidade dão ênfase à continuidade mais do que à reforma. Mas a palavra chave para entender um Concílio que quer introduzir uma reforma é, de fato, "renovação”, pois esta é a história do cristianismo desde o evangelho: novidade, e, portanto, renovação. Importa mais o futuro do que o passado, e a memória só tem sentido enquanto reforça a esperança.

iii. A nova geração "não conciliar”. Tanto no clero como entre os católicos que estão inseridos em movimentos e organismos eclesiais, a cinquenta anos do começo do Concílio, temos uma geração naturalmente afastada da experiência do Concílio e do seu contexto. É uma geração que, em caso positivo, escuta ou estuda um acontecimento do passado. Que importância conseguem dar à recepção do Concílio, por exemplo, no Pacto da Catacumba ou em Medellín? Há uma dificuldade que agrava a consciência da relevância do Concílio e da sua recepção, já mencionada na introdução: a menor importância que se dá, hoje, na cultura, à consciência histórica e crítica. Quando, por exemplo, um grupo de jovens se organiza para reivindicar uma liturgia anterior ao Concílio, fazendo a afirmação equivocada de que se batem pela liturgia "que sempre foi e sempre será!”, estamos diante de um conflito por falta de interesse por informações de ordem histórica.
A formação, tanto inicial como permanente, e tanto do clero jovem e seminaristas como dos católicos engajados em todo tipo de movimentos será absolutamente importante, nesse caso. Podemos entender aqui a insistência de Bento XVI no conhecimento da doutrina, na catequese. Hoje não se pode estudar dogma, liturgia, direito, ética, etc., sem a sua necessária dimensão histórica e seus contextos culturais. Sem história e sem contexto, a tendência é se tornar absolutista. Absoluto é só Deus, e a verdade absoluta se mantém na reserva escatológica, quando veremos Deus e todas as coisas como são. A historicidade ajuda a manter a humildade do caminho e a evitar o absolutismo, próximo das ideologias totalitárias e violentas. No entanto, os métodos histórico-críticos se mostraram também limitados, sobretudo por sua capacidade desconstrutiva mas nem sempre reconstrutiva. Por isso pode ser precioso, para a retomada do Concílio, o que Bento XVI advoga para a interpretação bíblica: a hermenêutica da fé. Que, em nossa experiência, pode ser comparável à Leitura Orante ou Palavra-Vida, a que pretendo voltar no item seguinte. De qualquer forma, a imobilidade de quem não ousa renovação revela falta de fé. "

Um excelente texto de Frei Luiz Carlos Susin na Assembleia da CNBB 2012 que pode ser integralmente acedido aqui

segunda-feira, maio 28, 2012

"Não há dúvida que homens e mulheres todos são capazes deste altíssimo nome e deste divino ou diviníssimo exercício.
" Por isso hoje, com grande mistério, no Cenáculo de Jerusalém, onde desceu o Espírito Santo, não só se acharam homens, senão mulheres: Hi omnes erant perseverantes unanimiter in oratione cum mulieribus. Estavam homens e estavam mulheres no Cenáculo, porque a homens e a mulheres vinha o Espírito Santo fazer mestres e mestras da doutrina do céu, e ensiná-los para que a ensinassem: Ille vos docebit.  ....não só aos homens, senão também às mulheres pertence, ou de caridade ou de justiça, ou de ambas estas obrigações, ensinar a fé e a lei de Cristo aos gentios e novos cristãos naturais destas terras em que vivemos".

Padre António Vieira, in “Sermão do Espírito Santo”, pregado na cidade de São Luís do Maranhão, na Igreja da Companhia de Jesus, em ocasião que partia ao Rio das Amazonas uma grande missão dos mesmos religiosos


O Espírito sopra...

Entretanto, o inadiável acordo dos cismáticos com Roma,   que iria ocorrer no Domingo de Pentecostes pelas mãos do Papa , foi mais uma vez adiado para as a calendas gregas....
E lá continuará, enquanto os lefebvrianos se desintegram em lutas intestinas.
Literalmente intestinas, atendendo ao seu conteúdo...

Dan Brown revisitado

 O Vaticano, e particularmente Bento XVI está sob violento ataque dos média  que tem divulgado a corrupção económica no Vaticano ( incluindo lavagem de dinheiro do Banco do Vaticano), a  gestão dos abusos sexuais dos legionários de cristo, a luta de poder interna tendo em vista o próximo conclave , a sucessão papal, rumores sobre atentados contra o papa e até o escândalo das conversações com lefebvristasO que vem na imprensa não são apenas rumores mas documentos concretos selecionados cirurgicamente e depois enviados para a comunicação social. Bento XVI está sob fogo, mas começa a ser clara a  origem deste ataque de dentro do Vaticano. O Mordomo acusado é descrito como religioso tradicionalista católico e devoto da santa polaca Faustina Kowalska, figura querida dos tradicionalistas. Sintomático é também o facto de Carlo Maria Martini  ter  vindo ontem  a público relembrar que  há 2000 anos Jesús foi traído e vendido e que o papa de hoje é vítima de uma acção malvada.
Este fim de semana, como cereja no topo do bolo surgiram delirantes acusações de um “complot sexual” e casos de pedofilia que tria originado a morte de uma jovem,  décadas atrás. E a acusação vem de quem? Nada mais nada menos que de um exorcista profissional ligados a sectores ultraconservadoers e tradicionalistas católicos. Os mesmos que têm alimentado na imprensa teorias de um complot contra a vida do papa associados a ideias  e sites sedevacantistas.   

sábado, maio 26, 2012

Há o risco de uma nova idade das trevas  - Idade Média - se abater sobre a Europa.

Acasos

A rapariga caiu no chão entre repolhos e laranjas. Tinha um rosto miúdo, os dentes ligeiramente projectados para a frente sob o baton exagerado. Tremia muito. Parecia  tão frágil, ali caída no chão,A precisar de colo.

Caminhada pela vida

As tarefas que permitem a nossa humanitude são partilhadas por quase todas as religiões, por ateus e  não crentes. Acolher os estrangeiros ( nas suas várias versões desde ser um bom anfitrião até ser um bom samaritano), ser compassivo para com os fracos, ajudar os doentes, enterrar os mortos, respeitar o alheio, compadecer-se dos que sofrem, não provocar mal nem sofrimento aos outros, não mentir, buscar a verdade e a justiça. Esta intuição ética comum constitui o pressuposto básico que permite  a uma comunidade humana sobreviver. E,  neste lado do mundo onde nasceu a humanitude, à volta do Mediterrânio, a nossa matriz cultural grega é o que nos define.
"O vocabulário das nossas teorias e dos nossos conflitos políticos e sociais, do nosso atletismo e da nossa arquitectura, dos nossos modelos estéticos e das nossas ciências naturais permanece saturada de raízes gregas, em ambos os sentidos da palavra. «Física», «genética», «biologia», «astronomia», «geologia», «zoologia», «antropologia» são palavras derivadas directamente do grego clássico. Por seu lado, os nomes trazem consigo, tal como a própria «lógica», uma visão específica, uma cartografia particular da realidade e dos seus amplos horizontes.”(Steiner, 2005)


É preciso recordar estas coisas nos tempos tenebrosos que correm.

Somos todos Gregos.

_ George Steiner, A Ideia de Europa,2005, trad. Mª de Fátima St. Aubyn, Ed. Gradiva, pp.38-39

Cada um na sua

Parece que a "caminhada pela vida" correu mal. Meia dúzia de gatos pingados, e,  se descontarmos as criancinhas e adolescentes  obrigados pelos papás a irem à manif para comporem o ramalhete,  a coisa ainda era mais confrangedora. Mesmo tendo-se colado à  Maternidade Alfredo da Costa, para captarem simpatias de alguns distraídos ( já agora, um aproveitamento um bocadinho vergonhoso).
Então,  onde andavam os dez milhões de católicos portugueses  que se baldaram para a manif? 
È simples, andavam a caminhar pela vida. A fazer a verdadeira caminhada. A viver a vida. A autêntica. Que está dura, difícil mesmo. Pouco dada ao folclore e ao fundamentalismo religioso misturado com politiquices de direita.

Sherlock Holmes

A culpa,  afinal,  não é dos modernistas.

Como toda a gente sabe, a culpa é sempre do mordomo.

Um perigoso socialista

"
Com certeza que é justo o princípio de que as dívidas devem ser pagas; não é lícito, porém, pedir ou pretender um pagamento, quando esse levaria de facto a impor opções políticas tais que condenariam à fome e ao desespero populações inteiras. Não se pode pretender que as dívidas contraídas sejam pagas com sacrifícios insuportáveis. Nestes casos, é necessário — como, de resto, está sucedendo em certa medida — encontrar modalidades para mitigar, reescalonar ou até cancelar a dívida, compatíveis com o direito fundamental dos povos à subsistência e ao progresso.
Centesimus annus - dia 1 de Maio do ano de 1991. João Paulo II
e no entanto, move-se

E NO ENTANTO MOVE-SE

Tadinhos dos anõezinhos...

sexta-feira, maio 25, 2012

Sedevacantismo.
Parece que estão na moda os casamentos exóticos a la carte.
O romantismo anda no ar e entre casamentos gay ou casamentos em latim arcaico com cantorias a condizer,  tudo é possível.
Basta imaginação e dinheiro. 
Ah, l'amour...

sexta-feira, maio 18, 2012

A primeira feminista europeia

Nos inícios do primeiro milénio, no coração da Europa, Hildegarda de Bingen  ousou desafiar o poder instituido - o poder político, o poder das armas, o poder do papa, o poder masculino.Uma mulher extraordinária que soube utilizar as "visões" mistícas para conseguir ( e conservar)  poder.
O poder da escrita, em primeiro lugar. O poder das matemáticas, do pensamento lógico, da medicina em segundo lugar. O poder da poesi e da música. O poder de não procriar nem depender de menhum homem - na Idade Média só permitido ás mulheres religiosas, não casadas. Por último o poder  patrimonial - a gestão , a riqueza e a propriedade efectiva das abadias medievas que teve em sua posse permitiram-lhe algo de extraordinário para uma mulher há mil anos atrás - a liberdade de pensamento.

Este facto é tão extraordinário no seu contexto histórico que a tornou um marco do feminismo.

Anões

A Anna escreve cada vez melhor. Lembro-me sempre dela quando encontro pobres criaturas a pedir  abaixo assinados  em fátima. Querem acabar com o aborto legal em portugal , choramingam. Todo o tipo de aborto, repetem. As mulheres, novas  e velhas, olham para eles com um ar assustado e desandam a sete pés... Nem a presença da santa as faz assinar barbaridades.
Eu não sei porque me lembrei da escrita da Anna ao olhar para eles, mas depois reparo que sim, parecem-se um bocadinho com anões pornográficos. Pequeninos e muito aflitos.

quarta-feira, maio 16, 2012

Serenidade


Os lefebvrianos implodem por dentro. O pouco que restar da luta tribal será totalmente controlado por Roma pós conciliar
Deus escreve direito por linhas tortas.

quarta-feira, maio 09, 2012

1 de Novembro- o culto dos mortos acabou em Portugal

O O fim do culto dos mortos em Portugal foi hoj decretado pela Santa Aliança - o Vaticano e o capitalismo selvagem.
Entre um dogma novecentista, sem qualquer importância para maioria dos católicos portuguesas e a vida concreta das famílias ou a identidade cultural de um povo, o Vaticano, mais uma  vez optou pelo dogma.
O Dia 1 de Novembro, mesmo para iletrados tecnocratas urbanos lisboetas, tem  muito a ver com a cultura protuguesa. As idas aos cemitérios, o reencontro das famílias, o regresso às origens, o culto dos mortos é ainda  algo de essencial para milhões de portugueses. Muito mais que a ascenções  meteóricas entre nuvens e clarinetes. È por isso que as Igrejas estão vazias e vazias irão continuar.
 

terça-feira, maio 08, 2012

Dona Solnado

Foi hoje de manhã. Num programa da RTP 1 Dona Solnado, de seu primeiro nome Alexandra, dedicou meia hora de espaço público de grande audiência a espalhar a sua mensagem divina. Se não estivesse tão assustadoramente cor de laranja - errada cor de fond de teint , exposição excessiva a um solário de bairro?   - talvez levasse a sério a cantilena que mistura arcaísmos católicos, conversetas new age sobre campos energéticos e frases avulsas tiradas do livro "O segredo". O que é estranho não são as ideias delirantes da senhora Solnado (gente delirante é o que mais há), o que é misterioso para mim é que tal criatura ganhe a vida a vender livros de pacotilha, workshops transcendentais e consiga tempos de antena de publicidade grátis paga por todos nós.Talvez pelo nome do pai, um inteligente ateu que lhe abriu os portões mediáticos.  A Dona solnado é particularmente irritante - uma mistura de santinha da ladeira com a astróloga Maya, mas com aquela arrogãncia muito especial de quem ouve a voz de deus. Dona alexandra esganiça-se um bocadinho a falar de verdades tão óbvias como os campos energéticos. E, ao seu lado, uma acólita fervorosa meneia a cabeça, de boca aberta.

Fátima

Dionísio andava aflito com a promessa feita.
Próstata tirada, cirurgia que só quem é homem é que sabe das aflições nocturnas, o espectro da impotência atormentava-o mais que as dores. Dionísio deu por si a rezar aflitas avé-marias a pedir erecções a sério. Nossa senhora deve ter escutado a sua súplica de cão semicastrado, pois volvidos uns meses, o pénis adormecido dava-lhe novos maravilhamentos sem urgências urinárias.
Fiel à promessa, Dionísio buscou por todo lado uma vela em formato fálico, para ir agradecer o milagre no altar de mundo.
Se havia oferendas em cera de todos os tamanhos e feitios, meninos e meninas inteiros, bébés de 30 centímetros, pernas, cabeças, corações e úteros fabricados aos milhares, porque não haveria ele de cumprir a promessa e oferecer uma réplica do seu bem mais precioso? Haverá algo mais importante que um orgasmo?
E como neste mundo tudo se arranja, haja dinheiro, Dionísio lá conseguiu uma vela de cera em formato óbvio. E para que não desse nenhum fanico às beatas ou ânsias incómodas a algum padre de saias, arranjou maneira de ir queimar a oferenda lá pela madrugada, quando o santuário está vazio de boas almas e se torna um deserto de estátuas.
Aliviado, ficou a ver a estatueta a consumir-se nas chamas, entre suspiros e estalidos de piras incandescentes.
Uma grande paz desceu-lhe sobre o peito, arrequentado de fé. Algures, nossa senhora sorria.


A terceira guerra

Estamos em guerra. A Europa está sob ataque do capitalismo global. Objectivo: implodir o Euro, arrasar o Estado Providência, destruir as sociedades democráticas baseadas nos princípios da solidariedade e no bem-comum. Foi este modelo que permitiu à Europa o desenvolvimento extraordinário das última décadas. Foi este modelo que permitiu a paz nos últimos sessenta anos.
Estamos em guerra.
O que se passa na Grécia é mais uma vez uma antecipação do que nos espera. Dizem que é uma inevitabilidade. Mas é apenas uma escolha.

domingo, maio 06, 2012

Memórias de um Portugal salazarento

"Os senhores proprietarios de antigamente, numa determinada altura do ano, bem me lembro, atiravam comida e roupas para as pessoas que estavam lá fora. Não foi assim à muito tempo. Ninguem gosta que fale nisto. Era mais ou menos assim: reuniam-se uma centena de pessoas à frente da Casa a rezar e os senhores mesmo depois de ouvir aquelas suplicas continuavam a almoçar vagarosamente. Nesse dia os Senhores até abriam as melhores garrafas para deleite da familia e amigos chegados. Duas horas depois lá vinham calmamente para a porta, no varadim, e cada peça de comida ou roupas eram atiradas para o povo, para a raia miúda que se embrulhavam uns com os outros.
Aquela cena preenche-me a memória até hoje. "

Retirado de uma caixa de comentários, a propósito das cenas do Pingo Doce



A direita tintol

O que há de mais infame na direita ultraliberal  é o desprezo absoluto pela vida e pelas pessoas.
Em particular, o desprezo pelos pobres, por essa classe de bas fond agridoce que só serve para criadagem  e pouco mais.
Quando leio posts destes lembro-me da boutade cínica de Maria Antonieta " S'ils n'ont plus de pain, qu'ils mangent de la brioche". E se  a frase da rainha é provavelmente falsa,  a atitude destes neoliberais é completamente verdadeira e despudorada.
Que se lembrem de outra famosa citação:  Por muitos menos crimes do que os cometidos por D. Carlos I, rolou no cadafalso, em França, a cabeça de Luís XVI ! ».

As mulheres sabem



"As mulheres, que suportam um fardo desigual quando a austeridade imposta pelo neoliberalismo desaba sobre as famílias, sabem bem que a solução é lutar por um outro modelo económico que elimine as causas do fardo: redução drástica dos orçamentos militares, reconhecimento de outras economias baseadas na reciprocidade e na dádiva, serviços públicos eficientes, tributação progressiva, direitos de cidadania eficazes, incluindo os direitos reprodutivos e sexuais, que libertem as mulheres do jugo do sexismo e do fundamentalismo religioso (católico ou muçulmano)."
Boaventura Sousa Santos, na Visão desta semana

sábado, maio 05, 2012

Do luar

Hoje é noite de lua cheia.Não uma lua qualquer. Uma lua agigantada de lobisomens e mulheres com cio a ocupar o céu todo. Uma lua espelhada em lagos como o queijo de fábulas.

Hoje é noite de aluar.

quinta-feira, maio 03, 2012

Do amor

O mundo é um brutamontes”, diz-me a dona Francisca. O mundo é o homem dela a agonizar nos cuidados paliativos, encharcado em morfina e paralisado. Dona Francisca fala do seu amor como de um príncipe. “A nossa união é um laço dourado talhado no céu”, diz-me ela. Pasmo com o trocadilho poético vindo do nada, numa senhora com aquela idade, uma linguagem de novela que já ninguém usa, mas dona Francisca repete a frase, com uma firmeza crua no olhar azul.
Um laço dourado”.
E fala do homem bom que a acompanhou a vida toda e agora jaz como um animal ferido.
“È o meu único bem, não tenho mais nada”. O brutamontes do mundo deve tremer com este amor tão óbvio. “Se pudesse, trocava com ele e morria. “

E o brutamontes do mundo a tremelicar, derrotado.

Incentivos ao aborto

Não deixa de ser irónico. Os que defendem que a saúde deve ser paga e que o SNS universal e tendencialmente gratuito deve acabar,  contribuem para aumentar as taxas de aborto.
E depois choram lágrimas de crocodilo porque as taxas de aborto aumentam.
Que venham  as clínicas privadas (onde se fazem abortos com lucro)  criticar que no SNS se façam abortos sem custos para as mulheres,  é de uma hipocrisia asquerosa. Naturalmente que interessa ás clínicas privadas que os abortos não sejam financiados pelo Estado.