“O mundo é um brutamontes”, diz-me a dona Francisca. O mundo é o homem dela a agonizar nos cuidados paliativos, encharcado em morfina e paralisado. Dona Francisca fala do seu amor como de um príncipe. “A nossa união é um laço dourado talhado no céu”, diz-me ela. Pasmo com o trocadilho poético vindo do nada, numa senhora com aquela idade, uma linguagem de novela que já ninguém usa, mas dona Francisca repete a frase, com uma firmeza crua no olhar azul.
“ Um laço dourado”.
E fala do homem bom que a acompanhou a vida toda e agora jaz como um animal ferido.
“È o meu único bem, não tenho mais nada”. O brutamontes do mundo deve tremer com este amor tão óbvio. “Se pudesse, trocava com ele e morria. “
E o brutamontes do mundo a tremelicar, derrotado.
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