domingo, setembro 28, 2008

Novos Feministas

A coisa mais encantadora de ter uma mulher ultraconservadora nas corridas presidenciais é ver como circunspectos conservadores abraçam o feminismo, com um fervor de neófitos.

Não sei se o que os excita é o penteado da senhora palin, se aquele arzinho meio desbragado de dona de casa desesperada.

Mas que andam excitados isso andam .... ( prefiro a palavra inglesa, pela sonoridade obscena).


Capitalismo selvagem


A beleza do capitalismo

Enquanto os óculos de Palin se vendem como pãezinhos quentes, Obama vence um debate e o esplendor do ultraliberalismo económico mostra as suas fístulas repugnantes.

sexta-feira, setembro 19, 2008

A filha de Palin é um modelo para as adolescentes?


A pergunta do Público é legítima.

Se uma candidatura presidencial se ancora em valores conservadores e faz bandeira de um modelo familiar baseado num determinado quadro ideológico , inevitavelmente que, se a sua realidade familiar colide com os valores que apregoa, isso  questiona a sua credibiliddae política.
Seria a mesma coisa que ter um candidato que faz campanha contra o casamento gay e depois saber que tem um namorado com quem pretende casar.

Mas a questão coloca-se ainda a outro nível. Palin usa e abusa da sua vida privada e da sua estrutura familiar para ganhar pontos nas sondagens, chegando mesmo à obscenidade de usar um filho deficiente como trunfo mediático.

Tem de assumir o reverso da medalha. É legítimo que se questione se Palin não tem nem um grãozinho de responsabilidade por ter uma filha grávida aos 17 anos?

Onde está a supervisão parental dos adolescentes, os cuidados maternos cuidadosos e congruentes desta mulher modelo?

Palin surge na camapanha presidencial ostentando o carimbo de mãe modelo.
Os conservadores insistem que a sua credibilidade política se ancora precisamente na sua função materna e procriadora. é esse estatuto que lhe dá uma particular credibilidade e visibilidae política.

Ora há que concluír que nesta dimensão Palin falhou em toda a linha e não é completamente confiável.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Epilepsia e possessões

Quando teresinha chegou ao serviço - começamos logo a chamá-la de teresinha porque parecia uma criança grande e dava-nos a mão direita com um ar perdido  - era uma jovem com um aparente retardo mental e alterações de comportamento inexplicavelmente agressivo para os padrões da aldeia aonde vivia. Diziam-na possuída. Internada para observação, Teresinha era de uma doçura extrema, mas com um discurso muito pobre, a revelar um contextos desfavorecido e uma infância sem sentido. Terminava cada frase com o “nada não, minha senhora” mais doce que algum dia ouvi. 

Uma tarde Teresinha teve uma crise violenta. Começou a gritar num canto da enfermaria, destruiu alguma mobília , rasgou a roupa, escondeu-se  num canto do quarto violentada por alucinações horríveis. Via mortos e pessoas podres, gritava, sentia cheiros estranhos e balbuciava que a salvasse do diabo. A sua perturbação era tão intensa que se transfigurou – a voz enrouqueceu, a face desfigurada pelo pavor das coisas que só ela via, cheirava e sentia, as mãos engalfinhadas uma na outra,  quase a sangrar. 

Medicada por via intramuscular e colocada num ambiente mais calmo, Teresinha recuperou da “possessão” por milagre farmacológico, sem imposição de mãos ou  exorcismos em latim.

Um estudo aprofundado permitiu o diagnóstico – Teresinha sofre de uma epilepsia do lobo temporal com crises epilépticas parciais complexas.


- Teresinha lembras-te do que viste ontem à tarde?

 - Nada não minha senhora, nunca me lembro dos ataques.

Sou uma mulher modelo



É sempre bom saber que sou uma mulher modelo ( ÁS VEZES TAMBÉM VOU AO JUMBO E AO CONTINENTE). 

Magritte  fumegou a seguinte intuição  – qualquer mulher com prole numerosa  e uma carreira bem sucedida , que não esteja divorciada é concerteza uma mulher modelo.

Como preencho cumulativamente estes requisitos também me devo incluír na categoria.

Também sou bastante feminina e uso óculos giros, adoro perfumes e quinquilharia  (diamonds are the girls best friends) e,  se a minha conta fosse mais recheada, gastava um horror em trapinhos.  Portanto, não abdiquei da minha “condição natural de mulher”, seja o que Magritte pensa que isso é.

O único problemazito da argumentação do magritte é que sou feminista, contra o tráfico de armas , defensora do laicismo (como Bento XVI) e da liberdade das mulheres. 

Ah e votei SIM á despenalização do aborto e concordo coma nova lei do divórcio.

È bom saber que sou um modelo a seguir.

Um fim

Percorri pela última vez a estrada à beira-rio entre o hospital e casa, um trilho magnífico entre a montanha e o rio. Demorava quase uma hora e havia dois lugares onde às vezes parava o carro, sempre que tinha de fazer o percurso, sobretudo à vinda, por causa dos horários. Chamava-lhes as minhas ilhas. 

Num recanto a seguir a uma curva, debaixo dos meus pés o rio projectava-se contra a montanha, em redemoinhos fulvos, num rebordo fosforescente que muda de cor consoante as estações do ano. Ficava ali uns minutos a ouvir o silêncio a sussurrar, só quebrado pelo gorgolejar do rio, lá em baixo, ou pelo vento. O silêncio era tão audível, sobretudo no verão, que se podia tactear encosta fora. Enquanto respirava,  lavava o olhar e a mente dos terrores e sofrimento da manhã no hospital. Às vezes o cheiro angustiante a  doença  permanecia nas narinas durante uns kilómetros, velhos rostos e velhas sombras afogavam-se na beleza das paisagens.

 Nos últimos dias um casal de milhafres acompanhava-me parte da estrada, em voos lentos tão próximos que instintivamente erguia a mão num saudação lunar. 

Penso nos doentes que não verão o voo dos milhafres, NEM O RIO AGORGOLEJAR NO SOPÉ DE MONTANHAS.

Nunca mais os vou ver.

Nem aos milhafres que me saudavam na estrada.

A vida é feita de pequenos fins que se encadeiam.

terça-feira, setembro 16, 2008

Quem vê TV é pior que ...

Sempre que regresso a Portugal e ligo a tv sou assaltada por um sentimento de perplexidade. 
Ena eu escrevi assaltada? - foi sem dúvida um lapso freudiano.
 É que, pelas notícias, parecia que portugal era um espécie de pais a saque, com indices de insegurança próximos da américa latina. 
Visto de longe, a coisa chega a ser cómica. Somos dos países mais pacíficos e tranquilos do mundo com taxas de criminalidade violenta incomparavelmente mais baixas que qualquer país europeu.. 
Retomarei o tema. SErve isto para dizer que a comunicação social fabrica a realidade e que o sentimento de ansiedade e insegurança, grandemente artificial alimenta ansiedades  inúteis e coisas ainda mais complexas como sentimentos de xenofobia e agenda spolíticas privadas. Não é difícil atear as massas.

mas verdadeiramente escandaloso é um programa chamado qualquer coisa da verdade, onde duas pessoas obscenamente se despem e são violentadas a troco de dinheiro e audiências. pornografia pura e dura, em horário nobre, sem que um suspiro d epudor, decência ou dignidade humana agite as habituais hostes protectoras dos bons costumes. é


fascismo católico

Que dizer sobre estudantes universitários betinhos neofascistas amantes de camisas negras, que se dizem pretensamente católicos?

Pouco há a dizer a não ser sentir um profundo sentimento de piedade.

Mas a piedade e comiseração não deve deixar de nos fazer reflectir neste epifenómeno de jovens mais ou menos imberbes, que se agrupam à volta de ideias neofascistas e que confundem religiosidade com ideologia política, numa caricatura do significado da espiritualidade cristã. Entre estes desvarios adolescentes e formas mais ou menos organizadas de paganismo há uma coisa em comum – uma profunda ignorância e falta de formação estruturante.

São os novos iletrados – com acesso ilimitado à informação ( sobretudo de forma empacotada e simplista) mas sem capacidade analítica de contextualização e d e pensamento reflexivo pessoal.

Em boa verdade não são pobres de espírito – pelo menos no sentido evangélico do termo. Mas que são de uma pobreza mental aflitiva, isso são.

 

segunda-feira, setembro 15, 2008

Babies, guns and jesus ou fêmeas na presidência

Mccain teve um melanoma invasivo nos últimos dois anos, segundo relatório médico.
Apesar das campanhas mediáticas, um melanoma invasivo não é propriamente uma gripe, pois a taxa de sobrevida em cinco anos não é tão animadora qunto isso.
Sendo assim, a probabilidade de Palin ser a próxima Presidente dos EUA, caso Mccain ganhe as eleições não é uma hipótese remota, mas uma probabilidade séria.
Palin é antes de mais um golpe de campanha genial num domínio a que está reduzida a política actual - puro espectáculo. Mulher, personalidade carismática e sobretudo gira - uma verdadeira tia que tem a vantagem de ser inteligente e dar uma boa capa na playboy. Mediaticamente vendível como produto de consumo ou entretenimento, visto cumprir o seu papel de fêmea. Uma mulher na corrida presidencial levanta também discussões políticas interessantes, como as roupas e os óculos de marca , reduzindo o protagonismo feminino ao essencial ( roupa e estilo).
A utilização da família e dos valores familiares mais conservadores aliada ao fundamentalismo cristão no seu esplendor é o retrato de uma certa américa ianque e predadora, que tanta animosidade e sangue tem feito correr. Our mama beats your Obama, dizem as T-shirt de campanha. A maternidade surge assim como uma ideologia de per si ou uma afirmação política sobre os papéis de género e as formas de organização social. Uma mulher com muitos filhos terá de ser forçosamente conservadora e defensora do modelo de família patriarcal.
Ainda a propósito dos valores da família e dos valores cristãos, a exibição do filho de Palin, de quatro meses de idade, a passar de colo em colo de cada membro da família e até pelo colo da mulher de McCain, à noite, no meio de um barulho ensurdecedor, parecendo mais inconsciente - quase inerte - do que adormecido, constantemente focado pelas câmaras de televisão, especialmente quando Palin promete ser na Casa Branca uma "defensora" de quem filhos deficientes, foi para mim, (....) uma das coisas mais obscenas que vi num ecrã de televisão em toda a minha vida. Subscrevo inteiramente esta observação do Pedro Magalhães.
Também não deixa de ser paradoxalmente edificante e igualmente obsceno saber que Palin tem uma filha de 17 anos solteira e gravidíssima. Consequência directa de uma educação cristã ultraconservadora e de incapacidade de supervisão parental. Prova do falahanço das ridículas campanhas do anel prateado.
Tenebroso que chegue? Não. A mulher é criacionista, não sabe onde fica o Irão e não acredita no aquecimento global.
O poderossímo lobby das armas apoia Palin. Guns and roses. Se Palin ganhar a guerra total está garantida. Em nome da vida.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Regresso

Não sei se é do brilho das casas

da bruma congelada nos telhados,

do cão que dá saltos de alegria doida no jardim em frente,

do meu miúdo que fez um corte de cabelo à escovinha que lhe faz brilhar os olhos,

do caderno onde guardo memórias curtas

do fõlego do tempo que não me deixa divagar vadiagens

ou da pele do outono que começa.

Hoje apetece-me respirar muito devagar e escrever palavras como se as desenhasse.

Devemos sentir-nos gratos. E aceitar a gratuitidade da vida com o maravilhamento interior de quem sabe da sua fragilidade.