Quando teresinha chegou ao serviço - começamos logo a chamá-la de teresinha porque parecia uma criança grande e dava-nos a mão direita com um ar perdido - era uma jovem com um aparente retardo mental e alterações de comportamento inexplicavelmente agressivo para os padrões da aldeia aonde vivia. Diziam-na possuída. Internada para observação, Teresinha era de uma doçura extrema, mas com um discurso muito pobre, a revelar um contextos desfavorecido e uma infância sem sentido. Terminava cada frase com o “nada não, minha senhora” mais doce que algum dia ouvi.
Uma tarde Teresinha teve uma crise violenta. Começou a gritar num canto da enfermaria, destruiu alguma mobília , rasgou a roupa, escondeu-se num canto do quarto violentada por alucinações horríveis. Via mortos e pessoas podres, gritava, sentia cheiros estranhos e balbuciava que a salvasse do diabo. A sua perturbação era tão intensa que se transfigurou – a voz enrouqueceu, a face desfigurada pelo pavor das coisas que só ela via, cheirava e sentia, as mãos engalfinhadas uma na outra, quase a sangrar.
Medicada por via intramuscular e colocada num ambiente mais calmo, Teresinha recuperou da “possessão” por milagre farmacológico, sem imposição de mãos ou exorcismos em latim.
Um estudo aprofundado permitiu o diagnóstico – Teresinha sofre de uma epilepsia do lobo temporal com crises epilépticas parciais complexas.
- Teresinha lembras-te do que viste ontem à tarde?
- Nada não minha senhora, nunca me lembro dos ataques.
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