O texto assinado é de Joseph Ratzinger, escrito em março de 1968. Faz parte de um livro recém-lançado na Itália pela Editora Rizzoli, intitulado Porque estamos ainda na Igreja. Reúne discursos e aulas do papa atual, pronunciados e ministradas ao longo de quarenta anos na Academia católica da Baviera. E agora confesso: trata-se de um texto magistral, na forma e no conteúdo. Tese central: o Inferno é a solidão. O homem teme a morte porque ela é o momento extremo da vida, aventura irremediavelmente solitária. Até na cruz, o próprio Jesus desce ao Hades, aos Ínferos, com seu grito de morte: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”. “Deus – escreve Ratzinger, – não é somente a palavra compreensível, ele é também a causa silenciada e inacessível, incompreendida e incompreensível”. E mais adiante: “Ao conhecermos Deus como silêncio, poderemos esperar ouvir a fala que emana do seu silêncio”.O teólogo não desdenha citar Sartre e Ernst Kasermann, na referência à “aparente ausência de Deus", revelada pela realidade terrena. E vem a pergunta: “Que é realmente a morte e que acontece depois, quando alguém morre e entra portanto no destino da morte?”. E volta ao apelo desesperado de Cristo crucificado. “O núcleo mais profundo da sua paixão não é a dor física, e sim a radical solidão, o abandono completo”. O autor recomenda então dilatar o alcance da pergunta, para concluir: Inferno significa “uma solidão na qual não mais se ouve a palavra do amor, significa a verdadeira suspensão de existência”.´
De fato, algo é certo: “Há uma noite em cujo abandono não chega voz alguma”. Por isso um único vocábulo quer dizer ao mesmo tempo inferno e morte no Antigo Testamento: scheol.
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