quarta-feira, dezembro 31, 2008
Religião newage
Isto anda mesmo tudo doido.
Vera Tradição
"A mulher está em sujeição por causa das leis da natureza, mas é uma escrava somente pelas leis da circunstância...A mulher está submetida ao homem pela fraqueza de seu espírito e de seu corpo...é um ser incompleto, um tipo de homem imperfeito [...] A mulher é defeituosa e bastarda, pois o princípio ativo da semente masculina tende à produção de homens gerados à sua perfeita semelhança. A geração de uma mulher resulta de defeitos no princípio ativo" ( Tomás de Aquino, Summa Theologica, Q92, art. 1, Reply Obj.
S.Agostinho sobre a poligamia: "Ora, uma serva ou uma escrava nunca tem muitos senhores, mas um senhor tem muitas escravas. Assim, nunca ouvimos dizer que mulheres santas tivessem servido a vários maridos e sim que muitas serviram a um só marido ... Isso não é contraditório à natureza do casamento' (De bono conjugali 17, 20)"
" As Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, ser segregadas, já que são causa de horrendas e involuntárias ereções em santos homens" (Santo Agostinho)
"Como uma mulher há de se reconhecer em Maria quando a ladainha de Nossa Senhora louva Maria como mater inviolata? Isso torna todas as outras mães matres violatae, mulheres que foram violadas, mal tratadas, conspurcadas, injuriadas, envergonhadas e profanadas - pela maternidade." (Uta Ranke-Heinemann)
"É Eva, a tentadora, que devemos ver em toda mulher...Não consigo ver que utilidade a mulher tem para o homem, tirando a função de ter filhos" (Santo Agostinho de Hipona, pai da Igreja)
terça-feira, dezembro 30, 2008
Milagreiros Tradicionais
Dona Domingas é que sabe. Milagres, há-os para todos os gostos e feitios e quem não tem cão caça com gato, que é como quem diz, quem não tem uma Mariazinha-sempre-virgem, capaz de inventar um chapéu atómico, aparecer numa tosta de queijo ou até num tumor cerebral , salvar uma desequilibrada que se atirou pra cima de uma vulgar bicicleta...
Dona Domingas recorre aos reis magos. Esses sim, uns verdadeiros magos, que salvam pessoas de tiros nas costas e as livram de ter filhas cegas. E em vez de longas rezas repetitivas pode adorar os santinhos da sua devoção com samba e batucadas...
Conta-me como foi
Desde pequena gostava de escrever cartas. A primeira, com cinco anos, desenhada afincadamente com uma bic laranja chegara às mãos trémulas da mãe depois de atravessar um continente ( A mãe guardou religiosamente a carta por mais de quarenta anos).
Com o tempo correra a fama da sua capacidade epistolar ( a letra escorreita, desenhada sem pressa, a capacidade em fazer de anseios não ditos frases completas) e eis que as mulheres da aldeia, muitas analfabetas, pediam à menina para ler e escrever cartas. Cartas demasiado pesadas para uma menina carregar - a menina aprendeu com elas a guerra do ultramar, os caminhos da emigração para o brasil, frança e argentina e mesmo os meandros do namoro epistolar.
"Meu querido filho Francisco: espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde que eu fico bem graças a deus. Fiz uma promessa à nossa senhora de fátima para que voltes inteirinho e com saúde. Todos os dias penso em ti meu rico filho, a falta que me fazes" .
" Querido António:Espero que ao receberes esta carta estejas de boa saúde na companhia dos teus. É para te informar que a Ermelinda já acabou o enxoval e queria a tua benção para apadrinhar o casamento". Nessa altura a menina achava que aquelas mulheres de preto e muitas rugas eram velhíssimas, mas agora que volta o olhar para trás, repara que as mulheres são afinal tão novas e que só a dor e os partos adolescentes lhes desfiguram as formas.
"Senhor Correia: Depois de informar o mau pai das suas honradas intenções, venho lhe dizer que ele deixa que receba as suas cartas mas que tenho de lhas mostrar e pedir a uma menina para lhas ler , para ver se são honestas ".
As cartas eram relativamente raras e anunciadas em voz tonitruante pelo estafeta lá do sítio que gritava do fundo das escadas: "correio" e fazia vir à porta metade da vizinhança.....
O mais aflitivo de receber eram os telegramas rectangulares com esfíngicas urgências - sempre obrigatoriamente anúncio de mortes, ferimentos em combate ou regressos felizes. As mãos tremiam na delicada tarefa de os rasgar que demorava milénios de rostos empalidecidos e, certo como a luz do sol, depois de um telegrama havia sempre gritos . De luto ou de alegria.
Por tudo isto a epistolar tarefa da menina ia-se agudizando com as marés e quando tinha nove anos tornara-se precocemente perita na arte da escrita, que a biblioteca do avô, cheia de livros proibidos alimentava às escondidas.
Cartas a um jovem poeta
"A mulher, que uma vida mais espontânea, mais fecunda, mais confiante habita, está sem dúvida mais perto do humano do que o homem - o macho pretensioso e impaciente que ignora o valor do que julga amar por não estar preso às profundidades da vida, como a mulher, pelo fruto das suas entranhas. Esta humanidade, que na dor e na humilhação amadurece a mulher,virá à superfície quando esta quebrar as cadeias da sua condição social. E os homens, que não sentem aproximar-se esse dia, ficarão surpreendidos e vencidos. Um dia (sinais certos o atestam já nos países nórdicos), a rapariga existirá, a mulher existirá. E estas palavras: 'rapariga', 'mulher', não significarão somente o contrário de 'homem', mas qualquer coisa de pessoal, valendo por si mesma; não apenas um complemento,mas uma forma completa de vida: a mulher na sua verdadeira humanidade.Um tal progresso transformará a vida amorosa, hoje tão cheia de erros (e isto mau grado o homem, que, de princípio, será ultrapassado). O amor deixará de ser o comércio de um homem e de uma mulher para ser o de duas humanidades. Mais perto do humano, será infinitamente delicado e cheio de atenções, bom e claro em tudo o que fizer ou desfizer. Este será o amor que, lutando duramente, agora preparamos: duas solidões que se protegem, se completam, se limitam e se inclinam uma para a outra. Isto ainda: não julgue que o amor que conheceu adolescente se tenha perdido. Não foi ele que fez germinar em si aspirações ricas e fortes, projectos de que ainda hoje vive? Tenho a certeza de que esse amor apenas sobrevive, tão forte,tão poderoso na sua recordação, pelo facto de ter sido a primeira ocasião de estar só no mais profundo de si próprio, o primeiro esforço interior que tentou na sua vida.Meu caro senhor Kappus, todos os meus votos de felicidade. Seu
Rainer Maria Rilke
"Há só um caminho: entre em si próprio e procure a necessidade que o faz escrever. Veja se esta necessidade tem raízes no mais profundo do seu coração. Confesse-se a fundo: "Morreria se não me fosse permitido escrever?"- Examine-se a fundo até encontrar a mais profunda resposta. Se esta resposta for afirmativa, se puder fazer face a uma tão grave interrogação com um forte e simples "Devo", então construa a sua vida segundo esta necessidade. A sua vida, mesmo na sua hora mais indiferente, mais vazia, deve tornar-se sinal e testemunho de tal impulso. Então, aproxime-se da natureza. Experimente dizer, como se fosse o primeiro homem, o que vê, o que vive, o que ama, o que perde. Não escreva poemas de amor. Evite, de princípio, os temas demasiado correntes; são os mais difíceis. Nos assuntos em que as tradições seguras, por vezes brilhantes, se apresentam em grande número, o poeta só pode fazer obra pessoal na plena maturação da sua força. Fuja dos grandes assuntose aproveite os que o dia-a-dia oferece. Diga as suas tristezas e os seus desejos, os pensamentos que o afloram, a sua fé na beleza. Diga tudo isto com uma siceridade íntima, calma e humilde. Utilize, para se exprimir,as coisas que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, os objectos das suas recordações."
"Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior. Caminhar em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém - é a isto que é preciso chegar. Estar só - como a criança está só quando as pessoas crescidas se agitam, ocupadas com coisas que lhe parecem grandes e importantes pelo simples facto de preocuparem os adultos e ela nada compreender do que estes fazem."
"É bom estar só porque a solidão é difícil, razão mais forte para a desejar. Amar também é bom porque o amor é difícil. O amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais alto testemunho de nós próprios, a obra suprema em face da qual todas as outras são apenas preparações. É por isso que os seres muito novos, novos em tudo, não sabem amar e precisam de aprender."
"Rainer Maria RilkeRoma, 14 de Maio de 1904
Deseducação sexual
E novidades?
Balanço anual
As beatas
Elas envelhecem com pequenos passos
Como de cãezinhos ou de gatinhos
As beatas
Elas envelhecem tão depressa
Que confundem o amor e a água benta
Como todas as beatas
Se eu fosse diabo ao vê-las por vezes
Eu acho que me faria castrar
Se eu fosse Deus ao vê-las rezar
Eu acho que perderia a fé. Pelas beatas...
Elas procissionam em pequenos passos
De pia de água benta em pia de água benta. As beatas. E patati e patata.
As minhas orelhas começam a assobiar
As beatas.
Vestidas de negro como o Senhor Padre
Que é demasiado bom com as criaturas
Elas beatizam-se de olhos em baixo
Como se Deus dormisse sob os seus sapatos.De beatas.
No sábado à noite depois do trabalho
Vê-se o operário parisiense
Mas nada de beatas
Porque é no fundo das suas casas
Que elas se preservam dos rapazes. As beatas
Que preferem encarquilhar-se
De vésperas em vésperas, de missa em missa
Muito orgulhosas de terem conservado
O diamante que dorme entre as suas pernas. De beatas.
Depois morrem, em pequenos passos
Em fogo lento, em montinhos. As beatas.
E enterram-se em pequenos passos.
De manhãzinha num dia frio. De beatas.
E no céu que não existe
Os anjos fazem depressa um paraíso para elas
Uma auréola e duas pontas de asa
E elas voam… com pequenos passos. De beatas
( De Jacques Brel, 1962; tradução livre de Ricardo Alves) Roubado à MC, a quem agradeço este momento.
segunda-feira, dezembro 29, 2008
Ignorância
domingo, dezembro 28, 2008
Fantasmas
Outra para acabar...
Ou seja, Good Girls Go to Heaven Bad Girls Go Everywhere ....
As solteironas
As doidivanas é que têm sorte, concluía a velha, depois de um longo cismar sobre a colcha de crochet.
Não sabemos se por obra das novenas da avó , se porque se tornou uma verdadeira doidivana trintona, dando bom uso ao que deus lhe deu para folgar, a moçoila lá acabou por se casar tardiamente e parir pela primeira e última vez uma adorável criancinha com a bela idade de quarenta e três anos...
Da pimbalhada
Ente esta versão e esta, não sei qual a melhor....
Uma emoção, este amor filial. Bastante pindérico mas nem por isso menos real.
Natalmente
Ainda só é domingo e tenho o mail entupido de assuntos de tabalho e pelo meio um ou outro comentário de tarados anónimos eivados de merdosos eflúvios católicos. Para o ano vou passar o natal ao brasil....
Mãe Querida
"As mães portuguesas nascem primeiro avós,só depois (não muito) devêm mães.
Mãesda autofagia dos filhos,da estupidez gregária das galinhas,do porco solitário,dos homens-netos a quem admitem o acasalamentoe a degola.
As mães portuguesas sabem de lume como ninguém,nem aqui nem no estrangeiro.Elas como ninguém engendram o coração da lareira,onde as madeiras oliva e pinha urdem o rubi rútilo.Resistem à saúde do idioma e à moléstia da literatura,não são nenhumas maricas de versos nenhuns.Na arca, salgam mantas de toucinho e trançasde anteriores como elas avós.
Têm com a Mãe de Deus uma diplomacia de clones.Nada lhes escapa ao almanaque:cónegos e coelhos, frangos e fregueses,vasos e veias, rios e frios,bailes e bules, cidras e hidrocefalias,câmbios e cambras, juncos e junhos,ossos e destroços, vinhos e tinhas,moucos e loucos, manhas e manhãs,censuras e tonsuras:nada pode furtar-se às avoengas evas."
quarta-feira, dezembro 24, 2008
Natal
Hoje vão nascer muitos meninos. Filhos do amor, filhos da guerra, filhos da morte, filhos da pobreza e de campos de refugiados. Filhos só das mães, como Jesus.
Hoje, muitas meninas adolescentes como Maria vão parir sózinhas, sem cuidados médicos nem antibióticos. Muitas delas irão morrer hoje ou nas semanas mais próximas.
terça-feira, dezembro 23, 2008
A vera tradição católica
Dois séculos antes, o filho de um sacerdote tinha-se convertido no papa Sixto (c. 116-125). Houve santos que foram papas que geraram filhos que chegaram a ser papas e santos. O sucessor do papa Anastácio I (399-401) foi o seu filho, Santo Inocêncio I (401-417); Um século mais tarde, o papa São Hormidas (514-523) teve um filho que também alcançou a dignidade do Romano Pontificie: São Silvério (536-537).
O grande papa e doutor da Igreja, dos finais do século VI, Gregório I, era bisneto do papa Felix III e tetraneto do papa Felix II.
Entre os papas do primeiro milénio, aproximadamente 12 deles eram filhos de sacerdotes.
O último papa casado foi Adriano II (867-872). O seu caso, como vimos, não é nenhuma excepção ou anomalia, mas trata-se apenas mais de um na série de esposos e pais, muitos deles aclamados como santos, que serviram a Igreja como bispos de Roma.
segunda-feira, dezembro 22, 2008
Funeral
Com padres destes e cerimónias religiosas destas admiram-se das igrejas vazias.
Epitáfio
Eu, Rosie,
eu se falasse eu dir-te-ia
Que partout,
everywhere,
em toda a parte,
A vida égale,
idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos;
dancemos
Já que temos
A valsa começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Fausto, Madrugada dos Trapeiros , "roubado " daqui
domingo, dezembro 21, 2008
Funeral
Cortei o caule ao alto e meti-as na jarra, no quarto, para as olhar antes de adormecer.
Os novos iletrados
No fundo, como qualquer professor do Ensino Superior confessa em conversas privadas, é-se obrigado a progressivamente descer o nível de exigência. E isto é particularmente óbvio em cursos de letras ou humanidades e afins... Que fazer quando a maior parte dos estudantes entra no Ensino Superior com notas próximas da mediocridade ?
Obediência e submissão.
Em alturas natalícias um simbólico gesto de Cavaco Silva, cheio de significado. Numa sociedade que culturalmente ainda se baliza por conceitos machistas de violência contra as mulheres ( alguns deles com conotações religiosas),é importante que a voz do Presidente da República se faça ouvir. E isto é parcialmente premente, porque em alturas de grave crise económica sistémica e estrutural, numa sociedade em que a violência é latente e socialmente aceite, os crimes contra as mulheres tendem a aumentar.
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O imperativo bíblico
Deu-me para ler os sucessivos delírios onanistas sobre a condição feminina, num blogue RAD TRAD.Passo a citar: "O marido manda à mulher que passe a vestir sempre saias; ela é obrigada a obedecer, porque, objectivamente, o conteúdo dessa ordem não viola a piedade cristã;Concordo! Deve obedecer. Mas não só porque sim, não só porque o marido mandou, qual déspota. Deve obedecer porque leu, porque estudou, porque sabe que uma mulher não deve usar calças porque ofende a Deus."
Ofende a Deus porquê?????A única explicação plausível é que usar saias é mais facilitador de uma boa foda, esse imperativo bíblico. Estes rad trads são uns grandes foliões, essa é que é essa...
sábado, dezembro 20, 2008
Sede submissos
"Na Europa, no fim do século XVII e início do XVIII, ocorreu uma mudança marcante no lugar da criança e da família (Ariès, 1986). O afceto tornou-se importante entre os cônjuges, e entre os pais e os filhos. O “sentimento de família” nasceu simultaneamente com o “sentimento de infância”: com o objetivo de melhor cuidar de suas crianças, a família recolheu-se da rua, da praça, da vida coletiva, em que antes se encontrava, para a intimidade, fazendo desaparecer a antiga sociabilidade. Paulatinamente, através dos séculos, o valor social da linhagem transferiu-se para a família conjugal. Quando essa passagem se consolidou, a família tornou-se a “célula social”, a “base dos Estados”, mas isso só ocorreu muito tardiamente, depois da Revolução Francesa.A família afastou-se, assim, cada vez mais da linhagem, da integridade do patrimônio, prevalecendo a “reunião incomparável dos pais e dos filhos”, firmando o modelo nuclear. Passou-se a privilegiar e marcar as semelhanças físicas entre pais e filhos, inclusive nas situações de adopção. A criança tornou-se a “imagem viva de seus pais”.
Quanto à relação conjugal, a partir do século XVIII, os jovens começaram a considerar os sentimentos para a escolha do cônjuge, desvalorizando aspectos exteriores como propriedade e desejo dos pais. Esta, para Shorter (1995), foi a primeira revolução sexual.
O casamento por amor só foi defendido abertamente no século XIX, quando o essencial do capital herdado passou a ser o capital cultural: as transformações económicas, advindas da Revolução Industrial, permitiram as condições materiais necessárias para uma liberação da escolha conjugal, que não ameaçava mais o patrimônio familiar.
Shorter (1995) estuda o que chamou de um “surto de sentimento”, ocorrido desde o século XVIII, fazendo desaparecer a família tradicional. Este surto desenvolveu-se em três áreas: primeiramente no namoro, caracterizado pela busca de felicidade e desenvolvimento individual; depois na relação mãe-bebê, que passou a se caracterizar pelo bem-estar do bebé acima de tudo; e por último na mudança da relação entre a família e a comunidade circundante, na qual os laços entre os membros da família reforçaram-se, caracterizando a “domesticidade”.
O namoro transformava-se, incorporando duas características: a substituição de um sistema de valores baseado na fidelidade, na cadeia de gerações e na responsabilidade perante a comunidade, por um sistema de valores baseado na felicidade pessoal e no autodesenvolvimento; e com a possibilidade de escolha, o controle pela comunidade dos encontros dos dois sexos cessa-se. Esta segunda característica está ligada ao desejo de ser livre, de desenvolver a própria personalidade e de realizar ambições pessoais. Desse modo, na forma do amor romântico, o sentimento tomou o poder. A espontaneidade permitiu a substituição dos roteiros tradicionais pelo diálogo, e a empatia iniciou a quebra da divisão sexual do trabalho, modificando os papéis desempenhados pelos sexos. O casal afastou-se da comunidade, buscando isolar-se dos “olhares curiosos” e investiu na “experimentação e inovação” dos “jogos do amor” (Shorter, 1995).
Com a difusão das relações igualitárias, a autoridade patriarcal reforçada pela comunidade tornou-se intolerável. O conceito de “domesticidade” como unidade emocional, constituída pela privacidade e isolamento da família, foi a terceira área na qual o surto de sentimento na modernidade manifestou-se: “Os membros da família passaram a sentir muito mais solidariedade uns com outros...” (Shorter, 1995, p. 244). Nas palavras de Sennett, a família deixou de ser vista como uma região “não-pública, e cada vez mais como um refúgio idealizado, um mundo exclusivo, com um valor moral mais elevado do que o domínio público” (Sennett, 1993, p. 35).
A família na modernidade, além de ser o lugar privilegiado para o domínio da intimidade, é também o agente ao qual a sociedade confia a tarefa da transmissão da cultura, consolidando-a na personalidade (Lasch, 1991)".
Para quem não está acostumado a ler muito, eis uma boa síntese Aqui
Novos feminismos, velhos problemas
Os efeitos da globalização neoliberal sobre a vida das mulheres tem vindo a reforçar aspectos significativos do patriarcado como a divisão entre público e privado, a "naturalização" da mulher como suporte dos cuidados com a família, perante a diminuição dos serviços públicos e o desemprego crescente, a mercantilização de todos os aspectos da vida, com particular destaque para o tráfico de mulheres que sustenta fortes redes financeiras internacionais, o fundamentalismo de todos os tons que impede as mulheres de disporem dos seus corpos e deoptarem por uma maternidade consciente ou que apedreja mulheres até à morte por romperem códigos de conduta medievais.
Não sabem do que falam
Provavelmente não fazem a menor ideia. Limitam-se a repetir chavões estereotipados, por vezes eivados de pretensas citações intelectuais.
Se se referem à família burguesa novecentista assente num modelo institucional baseado no patriarcado; se falam da família nuclear, produto directo da revolução francesa; se se referem à família baseado na conjugalidade e no amor romântico, uma invenção do século XX,; se falam dos ancestrais modelos medievos da família tradicional, que incluem o adultério masculino, a pedofilia e o incesto como algo de absolutamente comum , "natural" e socialmente aceitável....
Devoção
Feliz Natal 2008
gosto desta crise económica natalícia que inaugurou saldos, adoro as gravatas natalícias,
os brincos-com-árvores-de natal- de- pisca- pisca para iluminar as orelhas na consoada, gosto dos perfumes novos, da neve, dos filmes musicais, dos gorros, das luvas, das boinas, dos doces proibidos, de perder completamente a cabeça estoirar 99 euros numa blusa ( em saldo), porque sim e porque sim, e porque é natal e eu mereço, gosto de todos os pecados natalícios, da futilidade, dos jantares da empresa e do departamento, jantares formais e pretensamente amistosos, abrilhantados por toilettes de novos ricos e as últimas sobre os divórcios dos colegas ou o projecto que não foi aprovado,
gosto de ir tomar um café à noite ao bar mais bonito da cidade e calcorrear a pé as ruas, sob as luzes, enquanto os meus pulmões gelam deliciados com o bafo da dezembro, gosto das cartas ao pai natal que os meus filhos escrevem a pedir sonhos possíveis e impossíveis, gostos das caras dos meus alunos a desejaram-me bom natal, gosto dos mails foleiros e das cartas de natal mais sofisticadas com poemas e brasões de família....
Gosto do natal e vou comê-lo até ao fim!
Dies Irae
Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.
Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.
Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre Os motins onde a alma se arrebata.
Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!
Miguel Torga - Cântico do Homem
Á espera da Ressurreição
Morrermo-nos é o maior mistério que nos pode acontecer.
Somos concebidos para a vida, para radicalmente nos mantermos vivos.
O nosso impulso mais fundo é este : o prazer animal de estar vivo. Esta voragem egoísta, atávica , masturbatória, violenta, capaz das maiores torpezas e das maiores exaltações - é o que nos impulsiona nas várias idades do nosso tempo.
Por trás deste impulso de sobrevivência adivinhamos o propósito último do nosso respirar existencial: somos vida e só para a vida somos chamados a ser.
Morrermo-nos é a antítese da nossa humanidade.
Este animal azul que somos, que só quer respirar delícias, comer até à saciedade, beber com sofreguidão, sentir inebriamentos e orgasmos, amar apenas, na ilimitada transcendência da nossa carne.
sexta-feira, dezembro 19, 2008
Tradição Católica Nazi
K - kinder (criança), kirche (igreja) e kürche (cozinha) era o programa ideológico nazi para as mulheres...
Vejo que algumas fêmeas tradicionalistas continuam a concordar. Coitadas,
quarta-feira, dezembro 17, 2008
Esta desertificação que nasce em baixo, produz os deputados que acham absolutamente normal passarem quatro anos no parlamento como uma sinecura suplementar e por isso não estão dispostos a prejudicarem o seu fim de semana alargado com votações.
Aqui
Vivemos habitados entre os mastros e os ventos
como pressentiu a poetisa.
Habitamos o prepúcio das palavras,
uma ligeira película que separa o início do fim,
Somos anémonas,
temos o peso da lua sobre as fístulas dos dedos.
Por isso cintilamos todas as noites
Maresias
A convicção é antiga, mas é mesmo assim:
o meu coração bate ao compasso das vagas.
Desde a orla do mar ergue-e o seu sopro sincopado
o bater das ondas que não são vagas mas o som de um coração.
Comecei assim , inteira:
um latido rumoroso a tamborilar diástoles.
Desabafo
sábado, dezembro 13, 2008
Os anjos de natal
São todos tão jovens. Deslizam pelos corredores vestidos de branco. Os enfermeiros na terra e os anjos no céu, disse um doente.
Aqui morre-se muito. Aqui, morre-se todos os dias. É verdadeiramente o corredor da morte. E os anjos deslizam, com suavidade. Hoje são loiros, os dois, uma jovem mulher que sorri docemente e um homem de trinta anos, muito belo. Sorriem-me também quando entramos no gabinete e o sorriso é caloroso, um enorme clarão morno que nos empurra a entrar.
Ele está deitado a dormir profundamente. Agonizante. Em lençóis limpíssimos, que a respiração estertorosa eleva e afunda com um bote na água. A enfermeira de sorriso loiro explica pacientemente a evolução da noite, o banho matinal, a barba irrepreensível, o corte de cabelo, o débito urinário. Tem os pés gelados penso eu , e eis-nos a tapar-lhe os pés com o cobertor, sabendo de antemão que não vão aquecer. O rosto corcomido pelo cancro parece uma daquelas imagens de cristo agonizante que as histéricas reverenciam. Órbitas arroxeadas numa magrez de cadáver, as mãos translúcidas, a pele de um macilento acinzentado. O cabelo , tão negro , tão jovem - que idade tinha, e agora que idade tem. Ficamos a olhá-lo em silêncio durante minutos numa prece muda abraçadas - a minha amiga e eu. Nada mais há a dizer - é este o fim da estrada. Não sabemos quanto durará a agonia.
Só choro quando me despeço dos anjos , duas cabeças loiras debruçadas sobre a a dor.
Choro, não só de tristeza, mas de uma espécie de profunda gratidão por existirem anjos - estes, que chegam com a seringa de morfina.
quinta-feira, dezembro 11, 2008
Fevereiro
Iria fazer anos próxino dia 9 de Fevereiro. Quarenta e nove. Iria, porque já não vai. ( Tinha escrito provavelmente já não vai, mas apaguei o provavelmente). Há palavras que temos de escrever para se tornarem materiais, reais. Já não vai fazer mais anos.
Restam-lhe os cuidados paliativos, a morfina em doses certas.
Este ano sim, em Fevereiro deste ano 2008, brincou comigo como e costume .
Fazemos anos praticamente no mesmo dia e assim durante um dia , os anos que nos separam ficavam divertidamente encurtados. O que era motivo de private jokes.
Amanhâ vou vê-lo ao IPO. Porque sim. Para me despedir. Sem saber o que dizer. Talvez lhe fale do dia dos anos.E aquelas brincadeiras parvas sobre os aquarianos estarem muito à frente do seu tempo.
Vais primeiro, ainda nos havemos de encontrar algures e voltar a fazer anos quase ao mesmo tempo. Mas não penses que nas contabilidades da eternidade me vais enganar .
Não, não: vais ser sempre muito mais velho que eu ainda que eu morra com oitenta anos...
Como este ano de fevereiro de 2008, percebes? Não penses que morres tão cedo para ganhar a aposta.E prometo que não vou chorar. Não tenho esse direito.
Coração nas mãos
Por estas semanas o meucoração anda a ter algumas falhas - crises hipertensiva, picos de taquicardia e arrimias. Hoje o ecocardiograma confirmou o defeito da válvula mitral. Segue-se uma bateria de testes e aumento dos B-bloqueantes.
Deitada na maca a ver as imagesn do écran, o pulso a 100 à hora, dei por mim a lamber lágrimas silenciosas. Puta que pariu a vida que a morte está sempre tão próxima.
Suicídio assistido
A Sky Real Lives ontem teve uma emissão especial - o primeiro suicídio assistido em directo na hsitória dos media.
Nestes dias tem-se debatido o direito a morrer dignamente como um dos direitos humanos fundamentais.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
Migrantes
Professores rascas
Sócrates, não desistas, a partir de hoje tens o meu voto incondicional.
As Deusas Católicas
Entretanto, alguns resquícios da mariolatria podem ser vistos aqui.
Tanta histeria junta.
O stôr
Mas que dá uam boa personagem para os contemporâneos, isso dá.
Biologia
terça-feira, dezembro 09, 2008
These issues have long intrigued philosophers and psychologists, but had not been investigated by neuroscientists until recently. Now researchers from the Karolinska Institute report that they have induced a "body-swap" illusion, whereby subjects perceived the body of another person as belonging to themselves.
"Hence, it is quite obvious that something as common as religion, which affects over 90% of the world population, would also have some neuronal basis. The interesting part is that the activity is common to all religions - A Buddhist meditating has the same neuronal activity as a Christian praying. This somehow brings us all closer a notch, its a shame this also causes humans to become zealots. I think this notion makes this zealotry ludicrous - “My favorite stimuli for creating neuronal activity in the right frontal lobe is correct and your is false, therefore you must die!”. Now doesn’t that make sense? Why didn’t you just say so?
Another thing that’s interesting is that the activity (and thus spiritual revelations) can be reproduced by simple measures: Meditation, Prayer, Trance music and LSD. Apart from LSD which causes chemical reactions which could take some work to figure out, this demystifies spirituality to a point of absurd. There is nothing special about the AHUM syllable used in meditation, nor the rocking of Jewish prayer. Any repetitive motion will eventually induce spiritual activity in the brain, be it embedded in trance music created a year ago, or a religious ceremony created 2000 years ago. "
Milagres das Deusas católicas
Deixa ver se percebo o milagrezinho. Uma jovem mulher instável vem da missa com uma criança ao colo. Devia vir meia tonta com o cheiro do incenso e vai daí, ao saír do autocarro, de uma foram irresponsável, com a criancinha carregada no lado direito, nem olha se tem o caminho livre. Claro, uma bicicleta bate-lhe no lado esquerdo. A mulher desequilibra-se e cai no chão.
A criancinha que estava ao colo no lado direito, não sofreu qualquer impacto , consegue leventar-se e fica de pé ao lado do passeio.. .
O choque não foi muito forte - nem a mulher se magoou seriamente nem o ciclista se desiquilibrou e caiu no chão. Ou seja, foi apenas um ligeiro raspão de uma bicicleta...em andamento...Nada de incomum. O que explica que a criancinha, mais lesta que a mãe atordoada, se tenha posto de pé na estrada.
Que não, que foi milagre. Que a criancinha ficou miraculosamente de pé...Salva por mão divina que desceu dos céus e tal.
Já se entoam laudes e adivinham-se peregrinações mais bebidas que as da senhora da aparecida...
E ainda falam dos Rcc...
Gentinha doida mesmo, né?
Prenhez on line
Aterrador é quando engravidam mesmo, colocam online a fotografia do Kit com as risquinhas da urina, e vá lá de postar as ecografias, os resultados da amniocentese, a marca das sanita onde vomitam , as variações hormonais e todo o circo da prenhez narcísica.
E de repente o zigoto delas passa a ser do mundo, as comadres sentam-se ao sol a discutir se foder grávida é mesmo melhor do que quando não estamos grávidas ( poderia escrever uma tese sobre o assunto) , alguns putativos pais são entrevistados sobre o tema, trocam-se emails compungidos e aposto que alguns romances de caserna vão nascer virtualmente entre dicussões sobre fraldas e bronquiolites.
O tom de amável cacarejar é permanente e acho sinceramente de um profundo mau gosto esta profusão de imagens dos meninos online por tudo o que é sítio, de exposição pública exibicionista de pequenos bebés, de descrição exaustiva de pormenores íntimos, de nomes pessoais, de coisas que deveriam ser um património próprio e pessoalíssimo de cada ser humano e de cada família, sem andar por aí numa expécie de exibicionismo prenho de feira .
Lembrei-me disto tudo a propósito de um dos últimos brilhantes posts da rititi, que subscrevo na íntegra....
weekend
Vá lá que não lhes deu para a floribela.
Momento Zen 2
Mãe em frangalhos:
- Miúdos, parecem animais a comer!!
Silêncio reflexivo seguido da pergunta inevitável:
- Então, queres que coma como uma planta?
Doente
Maria, a Deusa Católica
Hemorragias periódicas que, segundo a lei judaica, a tornavam impura porque relembravam a sua inferior condição de mulher?
Será que defecava?
Terá sido concebida por inseminação artificial, isenta do pecado original do sexo ligado à procriação humana?
Terá concebido sem óvulo seu nem esperma alheio , tornando-se
cobaia da primeiro aluguer de ùtero da história humana?
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Momentos Zens do Fim de semana
- Adoro gatinhos!
Irmã mais velha em tom pedagógico:
-Mas olha que os gatinhos não são todos assim tão queridos. Alguns até comem passarinhos...
Silêncio reflexivo, seguido de pergunta filosófica:
- Se os gatos comem passarinhos os leões comem avestruzes?
sexta-feira, dezembro 05, 2008
Do fim
Era uma mulher de 94 anos e a morte estava mais ou menos agendada para estes inevitáveis dias de inverno, apesar disso, os lábios tremem-lhe quando me faz a descrição clínica do caso. - -- - Nunca me tinha morrido uma doente.
- Pois, o nosso trabalho é assim, disse-lhe. Eles morrem-nos porque fomos nós que estivemos com eles até ao fim.
domingo, novembro 30, 2008
Stress em primatas
- Consistently, animals who are more socially stressed by the dominance hierarchy show indices of hyperactivity of the GC system. This includes elevated basal levels of GCs, the enlarged adrenal glands that accompany such increased secretion, a sluggish GC stress response in the face of a major homeostatic challenge, and impaired sensitivity of the system to negative feedback regulation (Sapolsky 2005:651).
Unstable hierarchies, hierarchies in which dominant individuals must repulse many challenges, and cooperative breeding systems tend to stress high-ranking individuals. Low-ranking individuals are relatively stressed (compared to high-ranking individuals) in societies with low social support for subordinates and with nonviolent intimidation by dominants.
According to the review, chronic stress has many negative health effects, including:
hypertension
increased cholestorol and associated plaques
inhibition of fertility and reproduction in males via suppression of testosterone
reduction in fertility and reproduction in females via delayed maturation, anovulatory cycles, accelerated senescence, and reductions in estrogen and progesterone
suppression of immunity
neurobiological changes
Sapolsky RM. 2005. The influence of social hierarchy on primate health. Science 308:648-652Sapolsky RM. 2005. The influence of social hierarchy on primate health. Science 308:648-652
sábado, novembro 29, 2008
Stress e estatuto social em primatas
Os primatas de baixo estatuto apresentam o sistema imunitário mais fragilizado como consequência de maiores níveis de stress e maior vulnerabilidade a doenças graves, incluindo respiratórias.
Por outro lado,a menor presença de arteroesclerose e doenças coronárias em machos primatas dominantes é subvertida se esses machos dominantes estiverem numa situação permanente de instabilidade social em que o seu estatuto é perturbado ou frequentemente ameaçado de forma completamente imprevisível ou aleatória, como se pode ver aqui.
Stress em primatas
1 - O nível de stress, avaliado pelas dosagens hormonais dos marcadores biológicos do Sress ( Adrenalina e cortisol) está directamente relacionado com o grau que cada macaco ocupa na hierarquia social do grupo.
2 - Estes níveis são substancialmente mais elevados nos macacos que ocupam os estratos sociais mais baixos e que são sujeitos com frequência a comportamentos de violência, agressão e privação.
3 - Estes macacos apresentam níveis elevados de arterosclerose quendo comparados com macacos da mesma idade e de estrato social superior ( machos dominantes).
Ouseja, mais do que uma experiência cognitiva ou comportamental, o impacto do stress é sobretudo biofisiológico. e relativo às relações sociais.
quarta-feira, novembro 26, 2008
Tienen derecho a la vida
Y una sociedad democrática, una sociedad como la nuestra, no se puede permitir que la violencia contra las mujeres sea algo normal. No nos podemos permitir que pase de generación en generación.
Solo desde el esfuerzo compartido haremos del tiempo un aliado, no un lastre. Es necesario que sumemos nuestras voces para que se convierta en una sola que grite “basta ya”.
terça-feira, novembro 25, 2008
Os profs Geração rasca
Sairam dos bancos de faculdade e entraram para o sistema de ensino do outro lado - são agora professores do ensino básico e secundário.
Uma carreira tentadora - em boa verdade a única carreira do sistema público ou privado onde TODOS os trabalhadores podem chegar automaticamente ao TOPO DA CARREIRA, sem um único momento de avaliação formal.
È normal que se amotinem se alguém lhes impõe um nível mínimo de exigência.
Os prós e contras de ontem foi elucidativo - os professores não querem ser avaliados. Ponto.E os que querem ou concordam com o processo de avaliação, calam-se com medo, sofrem coacções, ameaças veladas.
Os restantes vieram para a rua aos gritos contra a Ministra (também era uma ministra) como faziam quando não queriam pagar propinas.
Usam os mesmo cânticos de guerra, os mesmo slogans adolescentes, as mesmas caricaturas, os mesmos insultos, a mesma lengalenga de boémia bebedeira.
Agora a luta é a mesma - querem uma passagem administrativa para o topo da carreira.
Com rabos à mostra se preciso for.
A tradição ainda é o que era
Ora aqui está uma boa recomendação que todos devem seguir religiosamente.
Um orgasmo por dia, nem sabem o bem que lhes fazia...
Acordar na cidade
Todos ainda dormem quando fecho a porta devagarinho, é ainda muito cedo, este pedaço da manhã é para mim, como um presente que me é oferecido e que me dou o ensejo de usufruir. Respiro o pálido amrelo das primeiras folhas que rumorejam a relva, a luz é completamente cristalina com este frio. Na relva do jardim ficou congelado o respirar da noite que estala agora sob os meus pés.
Tenho mesmo ao lado da minha casa o melhor jardim do mundo, com tílias, plátanos e bétulas, pegadas de crianças, matilhas de cães guiados por donos cegos-ao-fim-do-dia ( é possível que durante o dia vejam, à noite parecem todos perdidos na penumbra enquanto são arrastados pelos cães), tenho escorregas de todas as cores, velhinhos translúcidos a fazerem o jogging matinal, teans a ensairam os primeiros beijos húmidos nos intervalos das aulas, rosas, muitas rosas que teimam em abrir em alturas improváveis do ano, tenho um baloiço onde, aos domingos de manhã, os meus filhos mais novos se perdem em solilóquios ondulados.
Tenho tudo, portanto.
domingo, novembro 23, 2008
Um texto que gostaria de ter escrito
Mas o mais digno de atenção, por mais revelador, foi o mais singelo: essa visão do mundo, da vida e da espécie que vem embrulhada na ideia de que, em democracia ou ditadura, "se está". Pois, nós bem sabemos. Mas é uma abordagem que sulca ondas melindrosas. Porque pressupõe distância e alteridade. A democracia não se vive e frui, como a ditadura não se sofre. Numa e noutra, está-se. Como quem diz: a gente nasce e logo vê. Logo vê o modelo de organização social e política em que nos foi dado viver. Paridos, olhamos em volta: se há liberdade, melhor, mas, se não há, a gente governa-se. Porque isso da liberdade, ou falta dela, é um dado. É um adereço rígido da própria Criação, entendida esta como tudo o que está - ou seja, tudo o que sempre foi, ligeiramente alterado pelos poucos menos e mais que a humanidade, laboriosamente, lá foi conseguindo introduzir. É contingência, é circunstância, e nada podemos (ou nos cumpre) fazer contra o que nos transcende e formata"
Delírio erotomaníaco
A doença mental tem destas coisas e a fantasia dos frustrados não tem limites.
Agora, que estes delírios sejam publicadas como se fosse um artigo sério e moralizador.....
sábado, novembro 22, 2008
sexta-feira, novembro 21, 2008
terça-feira, novembro 18, 2008
Oração da Tarde
O homem sem cara encosta-se à parede como uma sombra. Não é apenas a mutilação no rosto, o rasto da cirurgia invasiva a desmontar o perfil do queixo, nem sequer a cicatriz que lhe corrói a face esquerda, nem as sobrancelhas sem pelos a adivinhar as sessões de quimio escondidas pudicamente pelo boné xadrez.
O que me inquieta no homem é este gesto de se encostar à parede, um gesto de tristeza infinita de animal acossado, um corpo todo escondido do olhar alheio, a vontade obscura de se anular, de se afundar na sombra, de se encolher em si mesmo até à transparência. E é este gesto, de abandono absoluto, de solidão absoluta, que me dá uma imensa vontade de rezar, numa proximidade de transfiguração da nossa humanidade.
Rezo por ele enquanto desço os dez pisos do hospital na direcção do carro. Não por ser doente, não pela mutilação da cara, nem sequer pela fragilidade do corpo contra a parede.
Rezo porque há qualquer coisa de sagrado neste sofrimento obscuro, qualquer coisa que nos leva a inclinarmo-nos interiormente face ao indizível e a clamar amor, não para mim mas para um outro desconhecido.
Heil nelinha
Reino na Noruega
segunda-feira, novembro 17, 2008
As Fábulas teresianas
1 - Se Inália usasse a pílula não haveria lugar a este post na melhor tradição de Telenovela mexicana.
2 - Se a pietista Tété acreditasse mesmo que o aborto era um infanticídio, em vez ficar a rezar tercinhos quando a amiga planeava matar uma criancinha, tadinha, tinha corrido para a polícia para a denunciar e impedir o facto.
Não só não o fez como não tencionava denunciar a Inália à polícia caso tivesse abortado.
Logo, nem a Teresinha acredita que o aborto é um infanticídio, nem é a favor da aplicação do direito penal a estas situações.
A não ser que a Teresinha já tivesse planeado uma visita da sua amiguinha Inália à prisão, onde deveria ter cumprido pena de três anos de prisão efectiva, tenho para mim que a Tété que votou SIM na despenalização da IVG antes das 10 semanas.
3 - Chamar a uma criança Flávia Alexandra é castigo suficiente.
domingo, novembro 16, 2008
Liliana
Fico um pouco perplexa quando o vejo, disse-me Liliana, a empurrar a madeixa que lhe esconde o olhar. Parece-me velho e gasto, magríssimo, barba por fazer, a brincar com os três garotos, sem que uma única gargalhada rebente à distância. Como um cão abandonado, penso, sempre que o olho com o coração apertado, que é o mesmo que dizer como um homem abandonado.O mesmo lombo curvado, um não sei quê de desmazelo no pelo, na pele, os olhos que eram de oiro - juro que eram - colados nas órbitas à custa de muito esforço. Reparo agora que os olhos - eram doirados - lhe vão caìr da cara e rolar no chão como um artifício inútil.
Quando se cruza comigo sei o que pensa. O mesmo silêncio de antigamente quando todas as coisas eram possíveis e um enleio adolescente nos proibia as palavras.
Um ligeiro arfar de lombo, à espera de uma festa ou a antecipar um pontapé, não sei.
"Se soubesse inventar cegos, fazia-os dormir sob rimas de jornal algures nas proximidades de um cais, numa cidadecomo a nossa, rasgada por cursos de gente e água. Aí, poderiam montar um estabelecimento, após o pagamento e a espera na fila, diria ao cliente quanta destruição vem de saber o dia em que se viu o pai chorar e desconhecer como pode um cigarro fumado por outros, numa cozinha da nossa infância, influir na felicidade futura ou ignorar outro modo de a tosse ser hereditária. Uma vez acomodado num banco de três pés, o cego poderia passar a explicar como uma partida dura, não até ao dia do regresso, mas até ao dia da morte seja de quem partiu, seja daquilo que ficou, porque aquilo que se abandona não muda nunca a menos que se abandone mal: a menos que se volte já com outro peso nas costas, as esperanças inversas (o que querias de diferente para os teus quando foste, entendes hoje que será melhor que não tenham tido, para que recebas à chegada a mesma desarrumação doméstica, lenços sujos ou braços mal abertos).
O nosso excelente cego serviria ainda para outros efeitos, faria um traço no chão com a biqueira do sapato bom para manter o silêncio por mais alguns instantes, silêncio que interromperia depois, abruptamente, para se confessar um ser prosaico e diagonal que, como tal, não pode fazer senão versos ou esperar que, na cama de jornal onde dorme sozinho,(e já alguém esteve acompanhado numa cama?) possa vir a ter mais do que monólogos constrangedores, mais do que conforto amargo de saber que nada de nobre merece ser estragado para poesia. Ele que até nem tem nada de nobre,infeliz depositário das incertezas de terceiros ..." Colhido aqui.
Radicalmente amoroso
O ponto de partida da espiritualidade de Jesus, a experiência de Deus como Abba, incluía a consciência de que Deus era um pai amoroso para todos os seres humanos. Deus ama e perdoa todos os homens, mulheres e crianças de forma incondicional. Era com esta convicção que Jesus se aproximava das pessoas do seu tempo. Embora fosse um crítico radical da sociedade em que vivia, Jesus não julgava ninguém. Nunca o encontramos a fazer sermões de moral, a procurar bodes expiatórios ou a imputar culpas fosse a quem fosse.(...) Ao subverter o conceitos do seu tempo, Jesus rejeitava qualquer forma de religião legalista ou moralista.
Albert Nolan, Jesus Hoje
Crimes contra as mulheres
Jesus o relativista
Albert Nolan - Jesus Hoje
sábado, novembro 15, 2008
Do luar
Está lá fora uma lua capaz de engolir o mundo.
Reminiscências
O cartaz foi concebido para o Dia Mundial contra a Violência de Gênero, dia 25 de Novembro. E a polémica está online, com os excitados do costume, com( ou contra?) o simbolismo do crucificado no feminimo.
Que melhor símbolo para uma mulher vitimizada?
Se fosse eu, usava este slogan:
Este é o meu corpo, tomai e abusai.
Este é o meu sangue, tomai e bebei.
Rad Trads versus Obama
Ou seja, como diz a Tradição popular portuguesa,Vozes de Burros não chegam aos céus.
Rito Moçárabe
Ainda hoje, este Rito, muitíssimo mais antigo e Tradicional que o Rito Tridentino, é mantido vivo em algumas comunidades hispânicas.
Resta dizer que a Sé Velha é a mais bela das Igrejas de Portugal.
Portanto, os saudosistas por rituais e música medieva assim como os interessados em Turismo Religioso podem ter a alegria de assistir a um espectáculo interessante.
Mais logo comentarei sobre o evento.
sexta-feira, novembro 14, 2008
A convicção delirante
intimidade, por uma espécie de força sobrenatural ou por certezas
absolutas que só ele pode conhecer. Sente-se possuidor de saberes
singulares que lhe chegam transportados por forças estranhas ao
eu. O paciente adquire subitamente a convicção de que certos
factos ocorreram, embora tal ocorrência seja de todo absurda e
inverosímil aos olhos do observador. (aqui)
quinta-feira, novembro 13, 2008
Caricaturas
Adélia Prado