Elas envelhecem com pequenos passos
Como de cãezinhos ou de gatinhos
As beatas
Elas envelhecem tão depressa
Que confundem o amor e a água benta
Como todas as beatas
Se eu fosse diabo ao vê-las por vezes
Eu acho que me faria castrar
Se eu fosse Deus ao vê-las rezar
Eu acho que perderia a fé. Pelas beatas...
Elas procissionam em pequenos passos
De pia de água benta em pia de água benta. As beatas. E patati e patata.
As minhas orelhas começam a assobiar
As beatas.
Vestidas de negro como o Senhor Padre
Que é demasiado bom com as criaturas
Elas beatizam-se de olhos em baixo
Como se Deus dormisse sob os seus sapatos.De beatas.
No sábado à noite depois do trabalho
Vê-se o operário parisiense
Mas nada de beatas
Porque é no fundo das suas casas
Que elas se preservam dos rapazes. As beatas
Que preferem encarquilhar-se
De vésperas em vésperas, de missa em missa
Muito orgulhosas de terem conservado
O diamante que dorme entre as suas pernas. De beatas.
Depois morrem, em pequenos passos
Em fogo lento, em montinhos. As beatas.
E enterram-se em pequenos passos.
De manhãzinha num dia frio. De beatas.
E no céu que não existe
Os anjos fazem depressa um paraíso para elas
Uma auréola e duas pontas de asa
E elas voam… com pequenos passos. De beatas
( De Jacques Brel, 1962; tradução livre de Ricardo Alves) Roubado à MC, a quem agradeço este momento.
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