terça-feira, dezembro 30, 2008

As beatas



Elas envelhecem com pequenos passos


Como de cãezinhos ou de gatinhos

As beatas

Elas envelhecem tão depressa

Que confundem o amor e a água benta

Como todas as beatas

Se eu fosse diabo ao vê-las por vezes

Eu acho que me faria castrar

Se eu fosse Deus ao vê-las rezar

Eu acho que perderia a fé. Pelas beatas...

Elas procissionam em pequenos passos

De pia de água benta em pia de água benta. As beatas. E patati e patata.

As minhas orelhas começam a assobiar

As beatas.

Vestidas de negro como o Senhor Padre

Que é demasiado bom com as criaturas

Elas beatizam-se de olhos em baixo

Como se Deus dormisse sob os seus sapatos.De beatas.

No sábado à noite depois do trabalho

Vê-se o operário parisiense

Mas nada de beatas

Porque é no fundo das suas casas

Que elas se preservam dos rapazes. As beatas

Que preferem encarquilhar-se

De vésperas em vésperas, de missa em missa

Muito orgulhosas de terem conservado

O diamante que dorme entre as suas pernas. De beatas.

Depois morrem, em pequenos passos

Em fogo lento, em montinhos. As beatas.

E enterram-se em pequenos passos.

De manhãzinha num dia frio. De beatas.

E no céu que não existe

Os anjos fazem depressa um paraíso para elas

Uma auréola e duas pontas de asa

E elas voam… com pequenos passos. De beatas

( De Jacques Brel, 1962; tradução livre de Ricardo Alves) Roubado à MC, a quem agradeço este momento.

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