«… Nos mais novos, com uma presença forte nos blogues, o que aflige na salazarofilia intelectual que por lá emerge é o grande peso da ignorância tomada como sendo a ausência de complexos sobre o passado e antiesquerdismo. Na verdade, é mais ignorância do que ideologia, a que depois o estilo de boutade e de comparação absurda para épater le bourgeois dá circulação. Um dia se fará uma antologia das mais estapafúrdias comparações dos blogues e nelas a salazarofilia chique terá o seu papel. (...)
Os jovens dos anos 30 e 40, a lei da morte foi-lhes diminuindo o peso na vida pública e na opinião. Com eles foi a salazarofilia de regime, parente pobre e menos coreográfico dos regimes totalitários de Itália e Alemanha, que nunca ultrapassou os anos 30 e deixou, depois do fim da guerra, instituições moribundas e anacrónicas como a Legião Portuguesa ou a Mocidade Portuguesa. A salazarofilia dos anos 50 era já mais da guerra fria do que a da "guerra civil europeia" dos anos 30 e, por isso, mais compatível com a democracia e com a "livre Inglaterra". A guerra colonial resumiu e deu algum alento a todas as salazarofilias anteriores, mas os tempos já estavam a mudar e, mesmo que Salazar odiasse a modernidade, o mundo estava já mais moderno, mais solto, menos estável, mesmo por detrás da formidável barreira da censura.Por outro lado, fora das elites, tem crescido depois do 25 de Abril uma salazarofilia popular e não é só na figura emblemática do motorista de táxi que brada contra o mundo e que funciona, para quem não conhece o povo, como a vox populi. Esta salazarofilia é em grande parte uma reacção antipolítica, demagógica e justicialista relativamente a muitos aspectos da democracia política, aos partidos, aos "políticos", à corrupção existente e imaginada, à ineficácia e custo da democracia. Esta salazarofilia comunica à esquerda com o populismo anti-sistema, forte nos simpatizantes comunistas e na parte do PS que é popular e urbana e de "baixo". A comunicação social, pelo modo cínico como relata a política, sendo ela própria salazarofóbica, porque alinhada à esquerda, alimenta a salazarofilia popular com muita eficácia e não é só no 24 Horas, esse híbrido esquerda-direita que enche os olhos dos leitores de primeiras páginas nas bancas.», por JPP, Abrupto
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