"Um facto salta à vista (pelo menos à minha): quem não tem filhos, mais facilmente culpabiliza os pais adoptivos, subestimando o valor afectivo que Esmeralda terá para eles e vice-versa. Já quem os tem, tende a opor-se às pretensões do pai biológico, que afinal renegou a miúda quando nasceu e só começou a lutar por ela um ou dois anos depois quando foi obrigado a reconhecê-la - e já num enquadramento mediático em que se torna difícil descortinar a verdade. A razão para uma ou outra escolha parece-me óbvia: quem tem filhos sabe que é depois de estes nascerem que os laços se aprofundam no sentido da natural devoção incondicional; antes disso, vive-se apenas uma espécie de ficção encantadora. É nas vigílias nocturnas, nos banhos, na primeira papa, no limpar dos ranhos, dos rabos, dos vomitados; é no levantar cedo para a escola, nas reuniões de pais e nas idas ao pediatra, que o amor se aprofunda e constrói, um bocadinho mais todos os dias. É por sabermos na primeira pessoa que o amor pelos nossos filhos - e o deles por nós, - cresce nos pequenos prazeres e sacrifícios que tendemos a simpatizar com o sargento e com a sua mulher e a termos a certeza de que a miúda é feliz com eles e de que será uma maldade muito grande separá-los. Objectivamente, é fácil perceber porque é que Esmeralda, que há poucas semanas teve de ser arrancada do carro aos gritos para ser entregue ao pai biológico, se mostra aparentemente satisfeita por estar com ele. Pensará porventura que está numa espécie de férias, num interregno divertido com um homem que a leva a comer gelados, à feira e ao cinema. Aposto que ninguém lhe disse ainda que não mais voltará para os pais que sempre conheceu nem que a sua vida mudou para sempre. Por agora a sua vida é festa, brinquedos novos e feira. Por outro lado, é fácil questionar as motivações do pai verdadeiro. O resto do post pode ser lido aqui e é a melhor síntese sobre o assunto que já li em toda a blogosfera.
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