segunda-feira, janeiro 05, 2009

Genocídios católicos e o direito à salvação

"Era o dia 22 de julho de 1209, ou, como os escritores medievais preferiam dizer seguindo o costume do tempo, o dia da festa de Santa Maria Madalena. Um grandioso contingente de cavaleiros armados, vindos do Norte da atual França, da actual Bélgica, da actual Alemanha e da Inglaterra cercou a cidade de Béziers. Falava-se de vinte mil cavaleiros equipados e mais de duzentos .(…) O objectivo das tropas não deixava qualquer margem de dúvida: derrotar oshereges que pululavam nas cidades e fortalezas situadas no Viscondado de Béziers e Carcassonne e no condado de Toulouse. (…) A exigência dos “cavaleiros de Cristo” era uma só: que os moradores de Béziers - a primeira cidade a ser atacada - entregassem os hereges que ali encontravam guarida. O bispo local serviu de intermediário entre os recém-chegados e os habitantes, uma vez que o senhor feudal da localidade, Raimundo Rogério Trencavel, abandonara a localidade ebuscara refúgio na vizinha Carcassonne.
(….) A acção dos sitiantes foi rápida, eficaz e fulminante. Atacadas pelos mercenários que acompanhavam a expedição, e depois pelos próprios cavaleiros cruzados, as muralhas de Béziers não ofereceram protecção por muito tempo. Aos gritos de “ao assalto” e “às armas”, a comunidade foi ocupada. Abandonando suas posições de defesa, os sitiados deixaram as torres e muros, refugiando-se com mulheres e crianças no interior da igreja catedral de Madalena. Fora do recinto os fossos e paliçadas eram transpostos, casas e estabelecimentos eram pilhados e incendiados, toda a população encontrada era passada ao fio da espada. Em pouco tempo, nem mesmo o templo sagrado ofereceu protecção aos refugiados. Como diz um dos testemunhos contemporâneos:
Nada pôde salvá-los, nem cruz, nem altar, nem crucifixo.
Os mercenários mataram clérigos, mulheres e crianças; ninguém escapou.
Se Deus quiser, receberá suas almas no Paraíso!
Não creio ter havido tal massacre desde o tempo dos sarracenos.”
(….) Antes da invasão de Béziers, um dos guerreiros teria perguntado ao legado papal Arnaldo Amauri sobrr como, durante o ataque, distinguir quem era herege e quem não era, tendo recebido a seguinte resposta: “Matem todos, Deus escolherá os seus!”.
A frase calou fundo na memória dos participantes da guerra, tornou-se uma espécie de emblema da intolerância reinante na Idade Média.
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