O que sabemos, em termos de conhecimento psiquiátrico, sobre o tema?
1 - Sabemos que os homens celibatários - solteiros, viúvos e divorciados apresentam mais patologia psiquiátrica, maior risco de suicídio e, globalmente, piores índices de saúde do que os homens casados. Os milhares de estudos comparativos e meta-análises sobre as várias dimensões da saúde mental e bem-estar psicológico corroboram este dado - os homens celibatários têm, em regra, mais patologia psiquiátrica que os homens casados.
Por outro lado, o suporte social, afectivo, emocional fornecido pela relação de conjugalidade estável está directamente relacionada com níveis mais elevados de saúde mental e bem-estar psicológico dos indivíduos do sexo masculino, mesmo se controlarmos outras variáveis ( como o status socioeconómico ou os estilos de vida).
2 - Sabemos também que a maior parte das pessoas que apresentam comportamentos parafílicos, nomeadamente pedofilia, são homens. A questão de género aqui não é discipienda. Os comportmentos parafílicos, sobretudo os mais graves e violentos, como práticas sadomasoquistas, homicídios e torturas sexuais e abuso sexual de menores são feitos, maioritariamente por homens.
E sobretudo por homens celibatários, ou seja, homens estruturalmente incapazes de ter uma relação adulta sexual satisfatória, e que, por isso mesmo, não conseguem manter uma relação estável de conjugalidade.
Estes são os dados científicos que a investigação da psiquiatria, psicologia, e as ciências forense de uma forma geral revelam.
3 - Uma "profissão" que tenha como pressuposto de "recrutamento" a condição ser homem ( risco acrescido) em situação de celibato compulsivo ( risco acrescido) aumenta consideravelmte a possibilidade de atrair para as suas "hostes" homens com graves perturbações psiquiátricas ou com alterações graves da personalidade/ sexualidade.
O sacerdócio seria uma fuga para homens com uma sexualidade desviante ou mal resolvida, ou, algo bem mais sinistro, uma hipótese de certos predadores sexuais terem fácil acesso a vítimas com garantia de protecção ou impunidade dado pela instituição.
Por outro lado o celibato compulsivo em homens normais numa instituição que cultiva a misoginia e impõe coercivamente o celibato, pode levar a que indivíduos aparentemente normais, tendam a exprimir as suas pulsões sexuais com as pessoas mais vulneráveis que "têm á mão", o que explicaria muitas situações de efebofilia ou abuso de meninas e adolescentes por padres, bastante prevalente.
Mesmo a questão da maior prevalência da homossexualidade dentro das instituições da igreja pode ser explicada por isto - a repressão sexual continuada e a misoginia instituída levam a outras formas da sexualidade se exprimir alternativamente. Os comportamentos homossexuais são também mais prevalentes noutras instituições totais, onde se "misturam " coercitivamente homens em idade sexual activa sem possibilidades de terem relações sexuais com mulheres - prisões, conventos, colégios internos de rapazes, quartéis, orfanatos.
Por tudo isto, não é de admirar que exista, dentro do clero, maior incidência de patologia psiquiátrica e desvios ou transtornos da sexualidade, incluindo o abuso sexual do que na população em geral.
Um forma óbvia de reduzir o problema do risco da pedofilia clerical era abrir o sacerdócio às mulheres, visto existir uma forte correlação entre pertencer ao sexo masculino e presença de comportamemtos parafílicos. Mais subtil ainda, mas não menos eficaz seria acabar com uma cultura larvar de misoginia dentro das instituições clericais. Se as mulheres estivessem mais presentes e fossem mais valorizadas dentro da igreja, com um estatuto de autonomia e coordenação, incluindo o acesso ao sacramento da ordem, tenho a certeza absoluta que os casos pontuais teriam sido referenciados e resolvidos prontamente.
Outra forma óbvia de reduzir os riscos da pedofilia clerical (e outras perturbações psiquiátricas e comportamentais) é acabar com a imposição do celibato.