Para alguns casais serodiscordantes, viver sem relações sexuais pode ser uma opção. A opção da abstinência sexual é uma opção, que não é em si mesma nem boa nem má , nem é essa opção de per si que santifica as pessoas.
O que é importante não é a abstinência mas as íntimas motivações subjacentes e as consequências práticas deste comportamento no relacionamento amoroso do casal.
Resta também saber se a abstinência é "imposta" por um dos cônjuges ao outro, por egoísmo, medo, ou até como forma de punição, ou se é uma opção consciente dos dois...
Nos casais mais idosos, provavelmente não será tão difícil abster-se de relações sexuais coitais, podendo no entanto exprimir a sua sexualidade de outras formas igualmente gratificantes e até obter orgasmos. Além disso, algumas destas pessoas seropositivas, sobretudo as mais idosas, poderão sentir um imenso sentimento de culpa e de vergonha associada à condição de seropositivo e a abstinência coital funcionar como uma espécie de autopunição.
Mas, e se estivéssemos face a um casal jovem de trinta anos, em que um deles descobre que é seropositivo? Uma pessoa seropositiva pode manter-se assintomática ( sem Sida) durante 10 ou até 20 anos...
Temos então um casal jovem, sem sintomas , na "força da vida", que se ama, com aparente saúde e que vive em conjugalidade e fidelidade.
É humano, é justo, é cristão dizer-lhes que terão de se abster de ter relações sexuais até ao fim da sua vida, e que, se quiserem ser bons católicos, não têm outra escolha?????
E se esse casal quiser assumir plenamente o seu amor e a sua conjugalidade, usando conscientemente o preservativo para proteger o cônjuge não contaminado? E se aceitarem, porque se amam, algum risco marginal , não é isso igualmente uma caminho de santidade? Pois a mim parece-me até muito mais.
Conheço uma caso desses, de um casal que vive a sua conjugalidade plenamente, mesmo quando souberam, há doze anos, que ele tinha sido acidentalmente contaminado. Na altura tinham uma filhinha pequenina e um projecto de felicidade e parecia que tudo iria por água abaixo. Mas não. O amor é forte! Não puderam ter mais filhos, mas conseguiram manter seu casamento.
Com sexo protegido usando sempre preservativos, com controlos regulares, com toda a panóplia de medicação retroviral, com dificuldades e altos e baixos e muitas alegrias...
Ela nunca foi contaminada.
São menos santos que uma cambada de frustrados que fazem normas morais desumanas e as pretendem impôr aos outros ??
Não, definitivamente, não...
Não, definitivamente, não...
São admiráveis na sua vivência plena de casados. E são ainda mais admiráveis porque ela sabe que amando plenamente aquele homem corre algum risco e mesmo assim o ama...
E ele é também admirável por se deixar assim amar pela sua querida mulher, sem se transformar num ser amargo e frustrado a lutar com a doença e a frustração sexual…
Como teria sido, se aos trinta anos tivesse sido condenado e condenasse a sua mulher à castração sexual? Ainda estaria vivo? Teria encontrado forças para lutar? Ainda estariam sequer casados? Seriam porventura tão felizes como são? Provavelmente não.
Por isso, o caminho para a santidade, no amor conjugal, pode perfeitamente passar pelo uso do preservativo. E nalguns, casos, passa obrigatoriamente – é o tal imperativo ético de que falava o Bispo de Viseu. Não tenho dúvidas disso porque conheço muitos santos. Alguns deles são seropositivos.
Mas São santos.
Porque amam.
Ao contrário de certos fundamentalistas desumanos e castrados...
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