A esta hora, precisamente a esta hora, os carros despejam-nas à beira rio onde se expoem sob o foco dos candeeiros. Figuras pálidas, de camisolas às riscas e minisaias, olhos empalidecidos sob a maquilhagem, bocados de carne na montra pública da obscenidade alheia. Os carros vão parando, piscas ligados em filas de espera de supermercado e elas debruçam-se a oferecer-se com meneios de sereia. "Vão e vêm, serpenteiam,em compassos de ballet. Seus lentos gestos penteiam madeixas que ninguém vê." Lembrei-me do poeta. Mas nenhum bailado na noite, este corropio da carne das mulheres invisíveis.
Às vezes aceitam um bocado de conversa. Trazem preservativos nas carteiras plastificadas compradas em lojecas-de-luxo-a-fingir. Os melhores clientes, os senhores, não querem preservativos. Pagam mais por isso. Os carros afrouxam, crucifixos benzidos pendurados no espelho retrovisor balanceiam promessas. Tudo bons católicos.
E elas exibem os decotes, regateiam o preçário, esquecem o preservativo na carteira.
Sem comentários:
Enviar um comentário