quinta-feira, abril 02, 2009

Tornar-se Pessoa

"A tendência da teologia actual é a de afirmar a unidade da pessoa e de evitar falar de corpo e de alma como se fossem duas entidades distintas. No entanto, continua-se a afirmar que no momento da concepção de um novo ser os pais geram o substrato biológico e Deus cria a alma que entra no corpo. Há depois a crença comum de que no momento da morte o corpo se desfaz na terra e a alma sobe ao céu para junto de Deus; quando chegar o momento da ressurreição, as almas reunir-se-ão de novo aos respectivos corpos. Ambas as concepções pressupõem que corpo e alma são separáveis, o que enfraquece a perspectiva unitária da pessoa. Além disso, a concepção tradicional deixa na sombra o carácter constitutivamente relacional da pessoa. Tomás de Aquino compreendeu que é a relação que constitui as três pessoas divinas como pessoas e dá a cada uma a sua identidade, mas negou que isso se aplique aos seres humanos, apesar de eles serem criados à imagem e semelhança de Deus. A concepção individualista de pessoa torna mais difícil compreender a natureza relacional da fé.O actual Papa afirmou na sua obra Introdução ao Cristianismo que a concepção dualista de raiz grega não é compatível com a concepção bíblica de pessoa, a qual acentua a sua unidade e não a sua dualidade. Por isso, Joseph Ratzinger defende também a unidade corpo-alma, mas adopta a concepção relacional de pessoa. Os seres humanos não são apenas indivíduos que estabelecem entre si relações interpessoais transitórias. Na concepção relacional as relações interpessoais, nas quais se inclui também a relação com Deus, constituem a pessoa enquanto tal. Não são pois algo que se acrescenta transitoriamente aos seres humanos individuais.

Ratzinger define então o conceito de alma não em termos de ‘algo’ que se tem, mas sim da relação que se ‘é’: ter alma significa ser-se objecto de uma especial relação de Deus, uma relação de amor...

Quando deixamos a perspectiva individualista, a relação com os outros é elemento constitutivo da nossa identidade, liberdade e dignidade. Na perspectiva relacional a identidade, a liberdade e a dignidade são experiências de relação interpessoal que nos fazem ‘ser’ quem somos, elas não são simplesmente ‘algo’ que se ‘tem’.

Reflexões retiradas de um excelente Blogue

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