No funeral, o irmão dele trazia guardado no bolso, como uma talismâ, uma fotografia do morto aos 12 anos. Mostrou-ma delicadamente.
O casaco adolescente das datas importantes, a pose fotográfica a espreitar o futuro, aquele olhar precocemente triste, a camisa abotoada com cuidado, o penteado irrepreeensível, uma certa ruralidade intuitiva. A história do menino triste estava toda ali e, de certa forma, a vida inteira do homem.
- Não mudou nada, disse eu, sorrindo entre lágrimas.
- Pois não, sussurrou.
E ambos falámos dele como se estivesse vivo e daqui a pouco lhe fossemos mostrar a sua fotografia de miúdo a fingir-se gente grande.
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