Josefa mora num pequeno tugúrio cheio de humidade. Por estes dias em que o gelo se instala definitivamente sobre as coisas, Josefa, mirrada nos seus setenta anos, passa os dias encolhida sobre a lareira. A casa não tem luz eléctrica, que é cara de se pagar e não há dinheiro para isso. Josefa não tem televisão, a grande companhia dos velhos abandonados, nem cobertor eléctrico nem máquinas de lavar. Lava os trapos à mão com sabão barato no tanque da varanda, as mãos retorcidas de artrite. Não tem filhos, nem netos.Não tem irmão nem família, Não tem ninguém no mundo, diz-me. Isto de não ter ninguém no mundo soa-me a desterro apocalíptico, um deserto absoluto de afectos. Josefa foi puta até há relativamente pouco tempo. Mesmo velha, ainda arranjava biscates de tarados ou velhos miseráveis como ela. Agora acabou.
Quando me vem abrir aporta Josefa está sempre a sorrir. Ri da mais pura e infantil felicidade.
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