Desde o papa João Paulo II que a Igreja católica ficou refém da caricatura em matéria doutrinária.
A questão da contracepção eficaz ( já que a Igreja católica admite a contracepção, desde que seja pouco eficaz, como são o métodos contraceptivos ditos "naturais") desembocou na caricatura da "proibição do preservativo". E nem o sério problema da SIDA e da necessidade de prevenção desta e doutras DSTs, alterou um discurso caquètico e desligado da realidade.
Curiosamente Ratzinger deu um passo quase revolucionário, ao admitir a eficácia das política de prevenção da SIDA da OMS, o programa ABC, com tanto êxito em algumas regiões de Àfrica - Uganda, em que se associou o ensino para a saúde e a distribuição em massa de preservativos gratuitos .
Foi a primeira vez que um papa reconheceu a eficácia de tal programa, dizendo, ao mesmo tempo, o que todas as organizações de combate à sida dizem: mudanças comportamentais e sexo seguro são a chave para resolver o problema do contágio. Uma vertente sem a outra são ineficazes.
Claro que o disse em vaticanês erudito e racional, linguagem que os fundamentalistas católicos não percebem bem.Claro que não teve a coragem evangélica de o proclamar com clareza. Um papa refém da cúria.
Claro que o disse em vaticanês erudito e racional, linguagem que os fundamentalistas católicos não percebem bem.Claro que não teve a coragem evangélica de o proclamar com clareza. Um papa refém da cúria.
Mas Bento XVI não ficou por aqui. Numa entrevista devidamente pensada e estruturada, admitiu a utilização do preservativo para evitar o contágio. E, ao fazê-lo derrubou dois mitos da propaganda beata e ignorante sobre o tema, admitindo que:
1)Os preservativos são a única protecção ( e protecção altamente eficaz) de prevenir a transmissão da SIDA durante uma relação sexual;
2) Por isso mesmo pode haver casos individuais em que a sua utilização seja justificada como, por exemplo, quanto um prostituto usa um preservativo, como afirmou expressamente numa entrevista pública de grande impacto. E embora o papa não o tenha dito em público, se há justificação moral para esse caso, maior justificação moral haverá no caso de um cônjuge infectado querer proteger o outro.Nestes casos o uso de preservativo não está apenas justificado - é mesmo um imperativo moral.
A seu modo, discreto mas claro no discurso, Bento XVI realizou uma pequena ruptura epistemológica, sempre na continuidade da doutrina de respeito pela vida.
Pois é da de defesa da vida que se trata, quando os preservativos evitam a doença e a morte de pessoas.
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