Toda a noite, e pelas horas fora, o chiar da chuva
baixou. Toda a noite, comigo entredesperto, a monotonia liquida me
insistiu nos vidros. Ora um rasgo de vento, em ar mais alto, açoitava, e
a água ondeava de som e passava mãos rápidas pela vidraça; ora com som
surdo só fazia sono no exterior morto. A minha alma era a mesma de
sempre, entre lençóis como entre gente, dolorosamente consciente do
mundo. Tardava o dia como a felicidade - áquela hora parecia que também
indefinidamente.
Fernando Pessoa, Livro do desassossego
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