domingo, fevereiro 17, 2013

Grande desejo

Não sou matrona,
mãe dos Gracos, Cornélia,
sou mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
 Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato
pra chamar cachorro e atiro os restos.
 Quando dói, grito ai.
 quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do meu estômago humilde
 e fortíssima voz pra cânticos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
 e o nome que eu vou pôr nele,
vou com ele a uma igreja, a uma lápide, a um descampado,
 para chorar, chorar, e chorar,
 requintada e esquisita como uma dama.

Adélia Prado

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