segunda-feira, fevereiro 04, 2013

As aventuras e desventuras de Chico Agulha - 4

Passei quatro noites sem dormir no alpendre da casa, agarrado ao machado, à conta de litradas de café. A Miquelina pensou que eu tinha endoidado de vez, mas bem lá no fundo andava orgulhosa da minha súbita macheza,  na defesa do sacrossanto reduto conjugal. Voltei a ser amaridado como nunca, morcela da beira  ao jantar, pudim de ovos durante a semana, e até papas de sarrabulho me trouxe um dia para merendar. Isto e outras íntimas alegrias nos intervalos da sesta, que eu agora tinha que dormir a sesta, cansadinho das vigílias nocturnas. Nestas andanças, parecia quase recém-casadoE tudo com o beneplácito do meu sogro Fagundes, que pelo sim pelo não, fazia rondas à vivenda armado de caçadeira.
Miquelina não tardou a espalhar as boas novas da minha valentia pela vila e arredores, à Marlene da farmácia, às colegas da fábrica, aos companheiros de comboio, à  Liliane Marise, cabeleireira. As notícias correm mais depressa que rastilho de pólvora - Chico Agulha desistiu da empreitada. Não por causa de mim ou do meu machado alpendurado às portas da vivenda, mas por causa do meu sogro.
Maus fígados  e gatilho fácil.



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