sábado, janeiro 26, 2013

O efeito placebo

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Quando o marido de Dona Imperatriz caiu de cama, uma doença estranha, barriga distendida e desvarios, a mulher tudo fez para o curar. Rezas, mezinhas, boticários, ventosas, idas a Fátima a pé, de tudo experimentou. Foi então que o médico lhe falou das curas milagrosas de água radioactiva.
As Águas de Radium, ali ao lado, bebidas ou em compressas radioactivas, topo de gama de rendimento terapêutico, prometiam tudo curar -reumatismo, gota, hipertensão arterial, colites, edemas, insuficiência circulatórias e tumores malignos.O marido tinha de ir a termas para melhorar. Mas não umas termas quaisquer. Hipossalina, carbonatada mista, silicatada, muito radioactiva por sais de radium e rádon (considerada no congresso de Lyon, em 1927, como uma das mais radioactivas do mundo) as Termas de Águas Radium davam a promissora esperança de rápidas melhoras. 
E assim, a mando médico, Dona Imperatriz arrastou o pobre marido em estado terminal para o belíssimo Hotel de Serra da Pena, ao pé de Sortelha, onde se instalou com grande pompa de malões e chapeús domingueiros.
E enquanto o pobre homem bebia dez copos de água radioactiva por dia, fazia tratamentos de lama radioactiva, séries de enemas radioactivos e lhe aplicavam compressas com radioactividade no lombo esquálido, Dona Imperatriz jogava canasta, divertia-se nas festas e bailes organizados no hotel, passeatas e outros convívios de conjugalidade duvidosa.
O sacrificado desterro de de Dona Imperatriz valeu pena. Duas semanas depois de terminar os tratamentos e uns dias antes de morrer, o marido parecia  completamente curado.
Fotografia actual do Hotel retirada de http://ruinarte.blogspot.pt/2010/08/o-hotel-serra-da-pena-ou-aguas-de.html



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