sexta-feira, janeiro 25, 2013

Contos imprevisíveis - Imperatriz 3



Aos doze anos Imperatriz, tinha-se aloirado ainda mais, a pele de uma brancura buliçosa sob a lixeira da roupa, apetecível como um pecado. Estupefacto, José olhou-a uma e outra vez, como se nunca a tivesse visto, reviu na cara dela o nariz da irmã mais nova maria do céu, a sua preferida. E apesar de se saber morto, praticamente cadáver, no limite da decência que um homem pode suportar, condoeu-se até aos ossos. Não tardaria muito que Imperatriz fosse pasto de homens como ele. Animais abrutalhados de trabalho escravo, cachaça farta, fome de carne nova. Havia de ser vendida, leiloada, emprenhada como um bicho. Imperatriz, arredondada nos alvores da puberdade, menina ainda, auréola doirada, intocada beleza. A dor de José tinha o tamanho da sua vergonha. E foi tão funda que nesse dia vendeu o que tinha no baú e o próprio malão de couro da viagem, fez uma trouxa de panos com a roupa que lhe sobrava e comprou outra passagem de barco.
 Não vou abandonar este anjo por aqui, a menina vai comigo.
E foi assim Dona Imperatriz chegou a Portugal , 12 anos feitos , a bordo de um barco a vapor, desses que no início do século XX atravessavam o Atlântico para desaguar em Lisboa.

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