Dona Imperatriz chegou a Portugal com 12 anos, a
bordo de um barco a vapor, desses que no início do século XX atravessavam o
Atlântico para desaguar em Lisboa. No tombadilho, de mão dada com o seu pai
José, um transmontano de gema arrasado pelas febres do sertão brasileiro
que vinha morrer à terra, ao colo da legítima, Imperatriz comtemplou as casas,
transida de frio. A sombra do cais embrulhado no xaile roxo da neblina
estreitava a multidão. Imperatriz sentiu um sufoco, uma pancada no coração ao
ver o pai a chorar. Pelo regresso.
Imperatriz nascera branca, branca de mais. Tão
branca quanto a mãe era preta como um tição. A mãe que a parira longas horas,
um pouco mais velha do que ela era agora. Garotinhas do sertão. Pasto fácil
para os portugas transmontanos esfomeados por carne nova nos intervalos do
trabalho escravo e da cachaça barata. Quando nasceu, toda a gente embatucou com
a belezura de Imperatriz, bochechas rosadas perfeitas, mãozinhas translúcidas
e, pasmo dos pasmos, em vez da carapinha incipiente, uma melena loira como
auréola de santa. O pai, embasbacado, comentou - parece uma princesa, a
mãe exaurida e orgulhosa refilou do catre, princesa não, que é pouco.
José gargalhou, pensas que é filha do imperador ou quê? Imperatriz
ficou, pois claro.
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