sexta-feira, janeiro 25, 2013

Contos imprevisíveis - Imperatriz 1


Dona Imperatriz chegou a Portugal com 12 anos, a bordo de um barco a vapor, desses que no início do século XX atravessavam o Atlântico para desaguar em Lisboa. No tombadilho, de mão dada com o seu pai José, um transmontano de gema arrasado pelas febres do sertão brasileiro  que vinha morrer à terra, ao colo da legítima, Imperatriz comtemplou as casas, transida de frio. A sombra do cais embrulhado no xaile roxo da neblina estreitava a multidão. Imperatriz sentiu um sufoco, uma pancada no coração ao ver o pai a chorar. Pelo regresso.
Imperatriz nascera branca, branca de mais. Tão branca quanto a mãe era preta como um tição. A mãe que a parira longas horas, um pouco mais velha do que ela era agora. Garotinhas do sertão. Pasto fácil para os portugas transmontanos esfomeados por carne nova nos intervalos do trabalho escravo e da cachaça barata. Quando nasceu, toda a gente embatucou com a belezura de Imperatriz, bochechas rosadas perfeitas, mãozinhas translúcidas e, pasmo dos pasmos, em vez da carapinha incipiente, uma melena loira como auréola de santa. O pai, embasbacado, comentou - parece uma princesa, a mãe exaurida e orgulhosa refilou do catre, princesa não, que é pouco. José gargalhou, pensas que é filha do imperador ou quê? Imperatriz ficou, pois claro.

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