sábado, janeiro 26, 2013

Imperatriz 4

Dona Imperatriz não é fingimento, viveu uma longa e farta vida de mulher trabalhadeira. Mulher transmontana, mulher-de-calças, diziam, ela que regia a casa com mão-de-ferro. Os homens na lide das terras, as mulheres a labutar limpezas,  mudas de cama, as grandes comilagens para os jornaleiros e resmas de roupa lavadas à mão e coradas ao sol. Tudo - as vidas das terras, a contratação dos homens, a venda do gado, o pôr galinhas no choco, a matança do porco, os casamentos e desaguisados da criadagem, tudo passava pelo pulso vertiginoso de Imperatriz.
Ninguém tem grande lembrança de seu nome de casada. É que, ao contrário das outras mulheres do burgo, o casamento foi a sua carta de alforria: libertou a sua imperial capacidade de mandar.
O marido,  um delicado e obeso lavrador rico da província,  ficara completamente enfeitiçado pela beleza da brasileira, desde a primeira vez que a viu, ao lado do cadavérico pai  As velhas falavam em beberagens com sangue de mênstruo, feitiçarias do outro lado do mar. Ninguém sabia da pretidão endémica da menina, mas havia qualquer coisa de fascinante na boca e nas ancas largas que punha os homens doidos. O cacique local ainda tentou convocar José por ínvias artes, tentando fazer da pequena sua amásia. Mas  Imperatriz, bateu o pé, e fez um tal alarido da sua pureza imaculada, tratou o velho rico com tal desdenhosa arte que não tardou em ser levada ao altar, mal completou catorze anos. José pode então deixar-se morrer. A menina ficava a salvo e ainda por cima rica, sonho muito mais improvável que a sua mansão de brasileiro, átrios de azulejo,  escadarias em madeira, tetos de fino estuque, lustres de cristal.  

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