terça-feira, janeiro 29, 2013

Doença mental grave - internamento em unidades de psiquiatria

"Ultimamente surgiu a ideia de que os internamentos em unidades de psiquiatria não são necessários, ou devem ser absolutamente residuais. Os princípios até são bonitos - psiquiatria comunitária, não exclusão social das pessoas com doença mental grave, desinstitucionalização. O recurso a fármacos de nova linha também deu uma certa ilusória segurança aos médicos  ( sobretudo os de clínica geral, sem grande experiência na área da psiquiatria, mas que começaram a prescrever psicotrópicos como quem dá rebuçados) de que basta o tratamento ambulatório e a coisa vai-se resolvendo 
Quando a isto se associa a uma opção política de reduzir custos com internamentos - fechar centenas de unidades psiquiátricas em todo o país, cortar nos recursos humanos, deixar de fornecer medicamentos essenciais para doentes psicóticos, aí a coisa torna-se ainda mais dramática e explosiva. Socialmente, o internamento de um familiar próximo numa unidade de psiquiatria ainda é visto como um estigma social, uma vergonha e humilhação a evitar  todos os custo, mesmo que isso curte a vida de alguém.
Subjacente a esta tendência para não internar está também uma certa cultura pós-moderna e newage de "alternativas terapêuticas " de reikis, cristais, gotas não sei de quê, alinhamento de chakras , viagens astrais, cursos de milagres e auto ajuda onde o delírio de algumas pessoas é considerado normalidade e até fonte de lucro. Patranhas perigosas, a que recorre tanta gente aflita na sua doença psiquiátrica grave, a em vez de pedir acompanhento psiquiátrico especializado.  Em muitos casos , a pessoa com uma doença mental muito grave não tem sequer noção de que está doente, porque perdeu os sentido da realidade e o insight. Nestes casos  a família, os amigos, os cuidadores mais próximos ou os serviços de saúde/sociais, podem e devem intervir. Os internamentos compulsivos estão previstos na lei e podem ser accionados por familiares próximos ou por pessoas da comunidade. 
Vem isto a propósito do recente "surto " de homicídios de filhos seguidos de suicídio praticados por mulheres . Mulheres doentes, em estado muito grave. Não foram internadas.
E isto é de uma grande tristeza. Mas não era inevitável. "

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