Dona Imperatriz teve poucos filhos. Entre abortos e nados-morto sobreviveram dois. A triste lei da natureza, diziam, pois Imperatriz, anca larga, peito farto, emprenhava facilmente. O que não sabiam era dos medos fundos de Imperatriz nestas questões de boa parideira. Antes de alguém ver os recém nascidos examinava-os ela, como um animal, à procura dos traços genéticos de negridão que a denunciariam. Alguns não sobreviveram por causa disso. Quanto ao resto, como todas as mulheres da sua idade, sabia bem quantos filhos queria pôr no mundo e quais as artes dos desmanchos.
Imperatriz escolheu portanto dois para viverem. Uma menina infinitamente branca como ela. Um rapazinho forte que rapidamente se revelou moreno escuro, feio como breu.O contraste era ainda maior quando se sentava junto da mãe e da irmã aos domingos e feriados nos bancos da igreja. Elas nas suas loiríssimas auréolas de santa, ele encorpado e escuro, de nariz grosso.
As velhas suspiravam. Coitado do miúdo, saiu ao pai. Em em surdina, lamentavam a pouca sorte de Dona Imperatriz.
As velhas suspiravam. Coitado do miúdo, saiu ao pai. Em em surdina, lamentavam a pouca sorte de Dona Imperatriz.
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