segunda-feira, junho 29, 2009

A verdade mata

Fico a pensar nas pessoas que escondem cicatrizes e mutilações atrás de máscaras e invenções pueris. A dor que escondem em artifícios de plumas é tão evidente como um murro. Vemo-las a gritar perfeições por trás da mutilação, enoveladas em capas de pequenas mentiras encantatórias. A lena, que é paraplégica e arranjou um terapeuta cubano, que acha que para o ano vai dançar no baile de gala. O carlos, que uns dias antes de morrer corroído pelo cancro, fazia planos para uma missão em caboverde. A mãe da angela, com um deficiência profundíssima, que acha que a filha é apenas uma criança problemática. O afonso, que violou a filha de 12 anos e me diz que não teve culpa, porque um "homem tem precisões". O nuno, que é deficiente motor e arranjou um alterego na net em que se faz passar por atleta. Ao lembrar-me dos que vivem ( ou viveram ) uma mentira verdadeira que lhes permite sobreviver e a que se agarram como náufragos, pergunto-em se é possível vivermos em absoluto a verdade. Por isso concordo com o Pedro:

"não acredito em dores domesticadas: pertencem a quem quer sofás na alma. acredito em dores identificadas, olhos nos olhos, que andam connosco dentro do peito, uma cicatriz que abre tanto que um dia pode até trazer luz, sem esperarmos por isso."

Mas para isso é preciso coragem e integridade.

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