domingo, junho 21, 2009

E pur se muove

Há cem anos atrás, as mulheres não estavam autorizadas a receber a comunhão durante o período menstrual. Depois do parto, tinham de ser "purificadas" antes de poderem reentrar numa igreja*. Era estritamente proibido às mulheres tocar nos "objectos sagrados" tais como o cálice, a patena e as toalhas de altar*. Não podiam em caso algum distribuir a comunhão*. Na igreja deviam usar sempre um véu sobre a cabeça*. Estava igualmente interdito à mulher: entrar no coro, salvo para limpeza; ler as Sagradas Escrituras no púlpito; cantar num coral da igreja; acolitar ou ser membro pleno de organizações e confrarias de leigos*.
E mais importante do que tudo: as mulheres não podiam receber ordens sacras.
Porquê estas restrições?
A resposta é simples: a mulher era considerada um ser inferior. A filosofia grega considerava-a um "ser humano incompleto". A mulher era considerada inferior ao homem.
A mulher era considerada em estado de castigo por causa do pecado. Era tida como responsável pelo pecado original e encarada como fonte contínua de sedução. Como poderiam criaturas pecadoras transmitir a graça de Deus? Pensava-se que Deus tinha submetido a mulher ao homem por causa do pecado original..
3A mulher era considerada como ritualmente impura devido à menstruação. Sendo assim, como seria possível permitir que as mulheres maculassem a igreja, o coro e, em particular, o altar? A menstruação era a causa desta mácula.
Saliente-se que estes preconceitos, embora de origem cultural, se tornaram preconceitos de ordem teológica. Constituem a verdadeira razão para recusar a ordenação das mulheres, como se conclui claramente dos escritos dos Padres da Igreja, dos cânones dos sínodos locais, dos regulamentos eclesiásticos e da teologia medieval.
No entanto, se olharmos hoje à nossa volta, verificamos que a mudança não é só possível como inevitável. As mulheres são a força viva da Igreja de hoje. Superando proibições milenares são leitoras, teólogas, catequistas, ministras da comunhão e asseguram com toda a eficácia as celebrações dominicais em milhares de comunidades sem pároco. Também podem baptizar e celebrar casamentos, como o pode fazer qualquer católico, homem ou mulher.
Portanto a questão da ordenação das mulheres é uma inevitabilidade a curto prazo e uma discussão tão inútil quanto a dicussão sobre o sexo dos anjos.

Sem comentários: