Na maca do bloco operatório, a caminho do matadouro, o ritmo cardíaco a 140 como se estivesse numa aula de step, pensou atirar-se da maca abaixo, agarrar no soro e pirar-se dali. Em vez disso ficou a ouvir a conversa parva dos médicos e dos enfermeiros sobre o jantar de ontem à noite enquanto lhe atavam os braços, lhe estendiam panos verdes sobre a barriga gelada e montavam a guarda de metal que separa o campo operatório do anestesista. No bloco está sempre um frio gélido, atrás das máscaras, os olhos de gueixas árabes aparecem mais cansados, e todo o ritual préoperatório é igualzinhos aos filmes de sacrifícios humanos. O ritmo cardíaco acelerou de tal modo que o anestesista franziu as sobrancelhas:
-Então, que ansiedade é essa?
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