Gabriel, tem trejeitos de arcanjo. Abre os braços como quem vai planar com a fatiota do supermercado. Tem cinquenta e tal anos, mais coisa, menos coisa, com aquela indefinição da idade que a pobreza, o cansaço e a solidão escalavram nas caras .
O trabalho é simples, metódico repetitivo até à exaustão - preencher as rodas do supermercado de xupa-xupas. São mais de vinte cilindros ao lado das caixas, cilindros com círculos de buraquinhos intermináveis que é preciso prencher um a um com os pauzinhos de xupa-xupa, ver os que faltam, voltar para atrás a confirmar se todos os sabores estão disponíveis.
Gabriel é pragmático - se estivesse a limpar casas de banho era bem pior, o senhor passos coelho é que tem razão, não podemos ser piegas. Viver com menos de quinhentos euros por mês não é para qualquer um.
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