segunda-feira, setembro 17, 2012

Dura Lex

Mariana aguarda um pouco antes de entrar na sala de audiências. Está cansada. O médico ontem foi peremptório, com trinta e duas semanas, o colo dilatado e contrações esporádicas, o melhor mesmo era estar enfiada na cama a tomar magnésio em catadupa. Mariana arranja a toga que agora está prestes a rebentar sobre as mamas gravidíssimas. Tem o julgamento agendado há meses, depois de estrombólicos adiamentos, prazos dilatórios e manobras processuais inventadas pela defesa, as testemunhas esperam nos corredores labirínticos e o arguido, sorridente e de fato novo voluteia com a alcateia dos seus advogados.

Talvez seja imprudente sujeitar-se a este desgaste e correr o risco de um parto prematuro. Mas tem que fazer este julgamento. Só este e depois pode descansar.

O arguido ri com desprezo quando a vê entrar com aquele passo de ganso das grávidas de fim de tempo. O advogado pigarreia a disfarçar a maçada e pensa para si mesmo que vai ser pera doce.
Mariana iça-se no estrado.
A vítima de violação chama-se Carolina. O mesmo nome da menina que traz no ventre.
Não vai ser pera doce.

Sem comentários: