segunda-feira, setembro 10, 2012

Enforcamento II

O silêncio da morte é a obscuridade mais íntima. Se há alguma definição da morte, não é a ausência, é o silêncio. Não nos vergarmos ao silêncio, ou seja, à desesperança da morte, é o maior combate. Não nos vergarmos ao medo, ao narcisismo, às saídas fáceis, à violência fugaz que parece tudo resolver.
Ter a coragem do quotidiano, feita de perenes fidelidades, de pequenos perdões, é o desafio dos homens e das mulheres de agora.
Por isso há tantos heróis. As ruas do meu país estão cheias de heróis, desses que não andam em manifestações nem escrevem em blogues, nem usam o Facebook. Heróis que dão o corpo às balas e que, na fila do supermercado, fazem contas mentais para ver se podem comprar mais um litro de leite. Mulheres que esfregam o chão da casa de joelhos, de madrugada, para que a cozinha fique a brilhar antes de sairem para o emprego no autocarros das seis da manhã. Homens solitários que choram junto a falésias porque lhes anunciaram o fim dos sonhos por SMS. Ou o desemprego, que é a mesma coisa.
A morte, ou a desesperança, nunca é só de um, é de todos. 
Por isso, por causa destes heróis, há que confiar, há que resistir.  Estar disponíveis para os outros, para a alegria , para o mistério. Saber que nunca estamos sós, mesmo quando a nossa escuridão mais funda nos cega. Mesmo quando nos morremos.

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