sexta-feira, julho 17, 2009

poetas mortos

A minha primeira bíblia foi um livro do rainer maria rilke - cartas a um jovem poeta. Bíblia, porque durante quase um ano andei com o livrinho para todo o lado, com sublinhados vários, notas marginais e poemas esboçados nas páginas em branco. O amor ao livro não era apenas pelo conteúdo, mas pelo amor de quem mo deu - um jovem poeta com quem trocava missivas literárias do mais puro platonismo. um dos sítios onde nos encontrávamos - cada um a estudar sebentas impossíveis - ele a estudar economia e eu às voltas com o direito - era o nosso pretexto de trocarmos poesias enquanto ele me falava dos amores adolescentes por outras miúdas.

Era um local verdadeiramente mágico, a antiga biblioteca municipal de coimbra, nas águas furtadas do antigo mosteiro de santa cruz, um sítio cheio de fábulas, com mesas compridíssimas de madeira antiga onde nos sentávamos a poetar e a ler de tudo, um cheiro extraordinário a livros velhos e banda desenhada nova, o tilintar da água dos claustros que nos chegava lá acima, sobretudo no verão, quando o jardim se abria em alvoroço através dos vitrais antigos e invadia as estantes com cheiros alaranjados.

foi numa dessas tardes que ele me ofereceu o livro, juntamente com um poema.

ficámos amigos desde aí e comecei a pensar se escrever não será uma predestinação qualquer.

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