É importante compreender que a Igreja Católica sempre viveu numa tensão entre uma visão catastrofista e refractária do Evangelho e uma visão libertadora, progressista e aberta ao futuro. Estas duas clivagens coexistiram desde sempre na história da Igreja e, em alguns momentos sangrentos, o confronto foi inevitável. Embora lentamente e por vezes com séculos de atraso, acabou por prevalecer sempre a visão utópica e libertadora, a visão progressista, por vezes ao arrasto dos ventos da história. A verdade evangélica nunca é retrógrada ou conservadora. Foi assim com a posição oficial da igreja face à escravatura - desde uma aceitação e incentivo directo, até à sua condenação só em em junho de 1888, com a encíclica do papa Leão XIII condenando a escravidão.
De notar que muito antes, o papa Nicolau V concedeu a Afonso V, entre outros direitos, o de reduzir à escravatura perpétua os habitantes de todos os territórios africanos a sul do Cabo Bojador. A Dum Diversas é uma bula papal dirigida a D. Afonso V de Portugal e publicada em 18 de junho de 1452 pelo Papa Nicolau V.
Foram precisos dezanove séculos, a revolução francesa, a afirmação do ideário dos direitos humanos universais, foi necessária a luta pela abolição da escravatura e a revolução industrial, para finalmente a Igreja tomar uma posição pública de acordo com o Evangelho.
Foi assim quanto à posição oficial da Igreja face ao judaísmo - desde um antisemitismo violento e homicida, passando pela aceitação tácita da solução final, até ao volte face radical do Concílio Vaticano II e as actuais relações cordiais e fraternas com o judaísmo.
Será assim com os direitos das mulheres.
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