Quando cheguei a Lourdes pasmei com a fealdade confrangedora do santuário e o comércio obsceno da doença e da esperança milagreira. Procissões medievais com estandartes e escapulápios e umas criaturas vestidas com umas fatiotas de sopeiras cor azul-bebé empurravam cadeiras de rodas de enjeitados da medicina, cegos ,moribundos, rostos disformes de dor e exaltação, velho e novos.
Alguns eram crianças, bebés pequeninos embrulhados em mantas, os crânios calvos da quimioterapia e reluzirem de pasmo, crianças arroxeadas de sono e dor, algumas semidopadas empurradas disciplinadamente pelas freiras sopeiras de azul, uma procissão percorria a rua com pendões e fitas estranhas, pouco faltava para ouvir os cilícios a salpicar sangue, depois lembrei-me eu, talvez algumas dessas criaturas os usassem debaixo das vestes e tive um acesso de vómitos que só serenou quando saí daquele lugar que me pareceu amaldiçoado da hipocrisia e da dor humana sem solução.
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