terça-feira, outubro 07, 2008

Novas famílias



Tarde fora, a comer um gelado com os meus filhos num centro comercial apinhado de gente, naquele ritual suburbano que os intelectuais criticam mas que mais tarde ou mais cedo cumprem. Ao nosso lado um casal troca beijos e carícias, perante a indiferença tolerante de todos. Ela é uma bela negra com um corpo deslumbrante – ele, tímido e deslumbrado, olha para ela completamente embevecida sob a franjinha loura tipo rebeld way. São os dois muito novos, estão enamorados e beijam-se longamente. Sorrio com a beleza do contraste da cor das mão dele – mãos translúcidas e brancas de menino da cidade a acariciar as mãos dela que enrijecem mais de negro enoveladas nas dele.
E, ao olhá-los lembrei-me logo que, se fosse há cem anos, poderíamos estar aqui a discutir sobre maldade intrínseca do casamento inter-rácico. A discutir assim .

E precisamente com o mesmo tipo de argumentos (as implicações biológicas e morais, a descaracterização do instituto sagrado do casamento, as misturas contranatura, as consequências terríficas para os filhos frutos da mestiçagem até, tenho a certeza, referência as leis divinas imutáveis. Haveria até criaturas perturbadas que equiparariam a possibilidade do casamento civil entre um branco e uma preta à legalização do incesto, à pedofilia ou à dissolução da família ).

Por tudo isto, acho que o casamento de homossexuais é uma questão meramente civilizacional e de direitos humanos.

E sim, o amor conta.

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