Está sol. No 1º piso encavalitam-se as pessoas à espera da consulta. Um mulher cigana, duma velhice suja senta-se na escada, envolta nas vestes negras de carmelita. Ao lado, um homem novo, camisola esfiapada, abana nervosamente um bebé choroso. É tudo aflitivo, as flores de plástico, as cadeiras alinhadas, os cheiros a doença em fila de espera, a pobreza explícita, os sacos de plástico a servir de carteira, a velhice abandonada semiapodrecida de solidão.
Na reunião da manhã falam-me dos velhos que vivem enjaulados em apartamentos no segundo andar sem elevador, que não descem à rua há anos, porque perderam a mobilidade, ou da mulher acamada que passa os dias e as noites completamente sózinha e cujo único contacto com a humanidade é com o apoio domiciliário.
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