sexta-feira, outubro 31, 2008
Campanha pela vida
00h30m
São cerca de 40 as mulheres assassinadas, de Janeiro até agora, vítimas de violência doméstica. O número é alarmante e corresponde a um aumento significativo, em relação a 2007, quando se verificaram um total de 25 homícidios, menos 15 do que os ocorridos só nos dez primeiros meses do ano em curso.
De acordo com dados de Setembro último, do Observatório de Mulheres Assassinadas, um departamento da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), os distritos de Lisboa e do Porto são os de maior incidência de homicídios de mulheres vítimas de violência doméstica, praticados por maridos, ex-maridos, companheiros ou ex-companheiros, namorados ou ex-namorados.
quinta-feira, outubro 30, 2008
Ouvido de passagem.
Combate ao cancro da mama
Sei os teus seios. Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já, Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p’la manhã? Quantas vezes
Quantas vezes, interrogastes, ao espelho, os seios? Tão tolos os teus seios!
Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!S
seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em desesperadas, quarentonas lágrimas…
Seios fortes como os da Liberdade-Delacroix-guiando o Povo.
Seios que vão à escola p’ra de lá saírem
Direitinhos p’ra casa…
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!
(...)Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
(...)Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser .
Alexandre O’Neill
quarta-feira, outubro 29, 2008
Café da Manhã
enquanto houver violações destas somos todas nós as apedrejadas, a criança abatida a tiro é o nosso filho, muitos dos que nos rodeiam têm pedras e sangue nas mãos, não é possível tolerar mais esta barbárie e, no meio do horror, fica o gesto daquele menino, o seu último gesto de amor ao proteger uma mulher ensanguentada antes de ser abatido como um cão, penso no Outro também abatido como um cão em nome da moral e bons costumes religiosos, o tal que se recusava a atirar pedras, penso no mal que se cola aos dedos como tinta do jornal enquanto o café arrefece, penso no que podemos nós fazer, nós, os Zés-Ninguéns deste mundo, os que assistimos às lapidações do lado de cá, braços cruzados,
foi ontem, precisamente ontem e não há dois mil anos, a mulher morta é a nossa vizinha, a criança abatida morava na casa ao lado, os que empunhavam as pedras são da nossa família.
terça-feira, outubro 28, 2008
Causas de morte
Anedotário
Basta dizer que a monarquia portugesa começou com um filho brutal com a sua própria mãe para perceber a superioridade moral do sistema tão integralmente católico.
segunda-feira, outubro 27, 2008
A Tradição ainda é o que era
Os números '88' e '14' são, de resto, símbolos da ideologia neo-nazi.
Segundo as autoridades, a seriedade dos conspiradores, dois skinheads de 18 e 20 anos, estava expressa na certeza de que estes iam morrer no decurso da campanha homicida.
O alvo final da conspiração seria Barack Obama.
Contra o cancro Um boa notícia.
do colo do útero e 250.000 morrem.O papiloma vírus humano (HPV) é responsável por 99,7% dos casos.
Em Portugal a vacina vai ser administrada gratuitamente a meninas com mais de 13 anos. Uma excelente notícia.
E pur se Muove
"Mulheres estejam caladas nas assembléias"
Conclusões Finais no Sínodo dos Bispos :
"As mulheres, refere o texto das proposições, “sabem suscitar a escuta da Palavra, a relação pessoal com Deus e comunicar o sentido do perdão e da partilha evangélica”.
Que "o ministério de leitor seja aberto também às mulheres, para que na comunidade cristã seja reconhecido o seu papel de anunciadoras da Palavra”.
Verdade eterna - o sol gira à volta da terra
Tendo os teólogos e doutores considerado estas teorias absurdas e erróneas [...] e tendo nós constatado que, depois de teres sido advertido, publicaste em Florença um livro intitulado Diálogo dos Dois Sistemas do Mundo, de Ptolomeu e de Copérnico, no qual continuas a defender as mesmas opiniões [...], declaramos-te, Galileu, fortemente suspeito de heresia. Deverás renegar publicamente as tuas teorias, contrárias aos ensinamentos da Igreja; e ordenamos que o referido Diálogo seja proibido e tu próprio aprisionado nos cárceres do Santo Ofício, ficando à nossa ordem." (Processo de Galileu)
Condenado a prisão perpétua no cárcere do Santo Ofício, em 22 de Junho de 1633, recitou publicamente a abjuração. Assim, um decreto de um tribunal eclesiástico impôs os limites ao pensamento científico e o princípio da incondicional autoridade da Igreja em relação às verdades teológicas e filosóficas e à interpretação dos textos sagrados."
sexta-feira, outubro 24, 2008
Das palavras e dos silêncios
Agora percemos porque disseram: perdemos a nossa Lady Di
Almas sensíveis.
Nenhuma destas sensíveis almas parece escandalizar-se
com o que verdadeiramente deveria escandalizar um católico – a pobreza, a falta de solidariedade, a indiferença, o fosso entre ricos e pobres.
quinta-feira, outubro 23, 2008
Imigração
Públicas virtudes
Não é nada de inédito que a um discurso moralistóide Tradicionalista sobre questões delicadas corresponda uma vida privada oposta ao que se proclama como valores essenciais.
Fé
Um grande distanciamento dos outros, o que dizem, o que os move, parece-me sem significado.
Dou por mim a lidar com surdos-mudos, não sou escutado (percebes? ), mesmo pelos que mais amo.
Ou serei escutado, mas não de uma forma plena, completa, definitiva, ser escutado até às raízes, ser escutado até às palavras que não podem ser pronunciadas
porque nem eu sei das palavras que são o mistério de mim,
nem eu sei da fome absoluta
e mesmo assim alguém saber ,
do mistério e desta fome,
e aí sim, pode ter sentido a experiência mística quase erótica de algumas pessoas.
Corpo habitado
não era preciso tanto, diz ele, como num apelo,
sabemos que quer dizer que não era preciso sofrer tanto para morrer,
devia ser mais fácil,
um percurso ondulado por outras vivências da íntima dor do corpo que nos vai morrendo,
da dor que só desagua no colo de Alguém maior,
pensei em asas e na presença ausente só perceptível à beira dos nossos limites existenciais
percorro as veredas do jardim de volta a casa, neste silêncio gritante que me invade,
sem diagnósticos, sem imagens de TAC,
somos um punhado de células, tecidos fabricados nas estrelas, a luz metaboliza-nos os ossos, somos uma espécie de girassóis de carne em busca de luz,
viramo-nos tão lenticularmente para o fulgor que nem nos damos conta,
não era preciso tanto,
e a luz conduz-nos com toda a suavidade até ao fim.
quarta-feira, outubro 22, 2008
Consulta
Na reunião da manhã falam-me dos velhos que vivem enjaulados em apartamentos no segundo andar sem elevador, que não descem à rua há anos, porque perderam a mobilidade, ou da mulher acamada que passa os dias e as noites completamente sózinha e cujo único contacto com a humanidade é com o apoio domiciliário.
Da retórica burlesca
De puta, claro.
SONHADORES CAPAZES SEJAMOS
do sono.
Cada um de nós de sua casa-rocha,
agora se vai deitar.
De horizontais falésias sejamos sonhadores capazes,
de verticais andorinhas riscados.
A espuma nos poalhe de branda nata branca
os corações mumificados pelo abandono
do sono,
diária morte nocturna
a nós deitada.
Daniel
Il pleuvait sans cesse sur Brest ce jour-là
Et tu marchais souriante
Epanouie ravie ruisselante
Sous la pluie
Rappelle-toi Barbara
Il pleuvait sans cesse sur Brest
Et je t'ai croisée rue de Siam
Tu sourais
Et moi je souriais de même
Rappelle-toi Barbara
Toi que je ne connaissais pas
Toi qui ne me connaissais pas
Rappelle-toi
Rappelle-toi quand même ce jour-là
N'oublie pas
Un homme sous un porche s'abritait
Et il a crié ton nom
Barbara
Et tu as couru vers lui sous la pluie
Ruisselante ravie épanouie
Et tu t'es jetée dans ses bras
Rappelle-toi Barbara
Et ne m'en veux pas si je te tutoie
Je dis tu à tous ceux que j'aime
Même si je ne les ai vus qu'une seule fois
je dis tu à tous ceux qui s'aiment
Même si je ne les connais pas
Rappelle-toi Barbara
N'oublie pas
Cette pluie sage et heureuse
Sur ton visage heureux
Sur cette ville heureuse
Cette pluie sur la mer
Sur l'arsenal
Sur le bateau d'Ouessant
Oh Barbara
Quelle connerie la guerre
Qu'es-tu devenue maintenant
Sous cette pluie de fer
De feu d'acier de sang
Et celui qui te serrait dans ses bras
Amoureusement
Est-il mort disparu ou bien encore vivant
Oh Barbara
Il pleut sans cesse sur Brest
Comme il pleuvait avant
Mais ce n'est plus pareil et tout est abîmé
C'est une pluie de deuil terrible et désolée
Ce n'est même plus l'orage
De fer d'acier de sang
Tout simplement des nuages
Qui crèvent comme des chiens
Des chiens qui disparaissent
Au fil de l'eau sur Brest
Et vont pourrir au loin
Au loin très loin de Brest
Dont il ne reste rien
Jacques Prévert
Adeus
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus
Eugénio de Andrade
Oiro dentro de mim, terra singela!
Busco apenas aquela
Universal riqueza
Do homem que revolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certezas de aluvião.
Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto.
Miguel Torga,
Poesia Completa
terça-feira, outubro 21, 2008
segunda-feira, outubro 20, 2008
Momento Zen do Dia entre uma colher de antibiótico
Rad Trads e outras cloacas
Se ao menos usassem a terminologia do Capitaine Hadock, isso significava que tinham um léxico mais apurado e um bocadinho mais de capacidade sarcástica.
Quanto a mim, parece-me qualquer Rad Trad se enquadra na categoria de : Anacoluto, anacoreta, anticristo, antropófago, antropóide, antropopiteco, arlequim, autocrata, autodidacta, bandoleiro, baqui-buzuque, barbeiro, beberrão, belzebu, bexiguento, boçal, braquicéfalo, bruto, bugre, cachalote, canalha, canibal, carniceiro, carrasco, caruncho, cataplasma, centopéia, chimpanzé, coleóptero, contrabandista, corsário, covarde, crocodilo, diplococus, dromedário, ectoplasma, embusteiro, emplastro, esquizofrênico, filho do diabo, flibusteiro, herético, hipocampo, hipopótamo, iconoclasta, impostor, infame, inseto, invertebrado, judas, lepidóptero, libertino, macaco, macrocéfalo, mameluco, marinheiro de água doce, mazorqueiro, megalômano, mercenário, miserável, moleirão, nefelibata, nematóide, ornitorrinco, pamonha, papua, paranóico, parasita, paspalhão, patagão, patife, pau-d’água, pedaço de analfabeto, pinguço, pirata de carnaval, piromaníaco, polígrafo, poltrão, quadrúpede, ratazana, raquítico, renegado, rizópodo, sagüi, salteador, saltimbanco, sátrapa, selenita, selvagem, traiçoeiro, traidor, troca-tintas, troglodita, vampiro, vegetariano, velhaco, verme, visigodo, zuavo, zulu. Fica em ordem alfabética para ser mais acessível consultarem o dicionário.
domingo, outubro 19, 2008
Brilhante
Os gatos fedorentos são uma tanga.
Educação sexual para jovens tradicionalistas delirantes
Foi assim que Nossa SEnhora pariu imaculadamente( com menos higiene e sem episiotomia, claro).
sexta-feira, outubro 17, 2008
Metáforas
A caricatura da intolerãncia torna a sua violência mais visível.
quinta-feira, outubro 16, 2008
Putedo
Ando farta de putas. Não me refiro às profissionais do sexo, enleadas na teia da exploração alheia, que me merecem todo o respeito, refiro-me àquelas putas mais refinadas, algumas virginalmente estéreis, que nem sequer fodem como deve ser e por isso exalam suspiros de perfeição monocórdica em várias áreas existenciais.
Não são apenas putas por causa da falta de foda - nada como uma gloriosa foda para despertar o que de melhor há nas pessoas - são putas porque há nelas uma maldade cinzenta e mesquinha que as apouca e impede de respirar. Por vezes, em reuniões, conferências ou em espaços sociais , dou por mim a avaliar quem deu recentemente uma boa foda pelo discurso dos intervenientes ou pelos rostos dos ouvintes. As pessoas bem fodidas ( que o putedo não é exclusivo das mulheres) são regra geral pessoas tranquilas e bem amadas sem grandes mesquinhices interiores.Têm sorrisos inexplicáveis, discursos razoáveis e uma certa elasticidade mental que os liberta daquela culpa castrada dos mal fodidos, regra geral projectada nos outros. Além disso as putas virgens, como são estéreis, tendem a não perceber nada desta coisa da maternidade, da família e do amor apaixonado. Enredadas num onanismo místico, intelectual ou mesmo no oananismo do sucesso profissional a todo o custo, as putas estiolam ainda novas, de tanto orgasmo por gozar. Não é à toa que o putedo tende a ter boas carreiras.
Mas que este tipo me irrita, isso irrita.
Fundamentalistas
"Mulheres muçulmanas amam a Alá acima das suas próprias vidas; Mulheres muçulmanas lutam pelo Reinado social do Islão ; Mulheres muçulmanas não têm outra dignidade a não ser a de serem filhas de Alá e membros do Islão ;Mulheres muçulmanas defendem o Islão com as suas próprias vidas; Mulheres muçulmanas têm em grande apreço o véu e têm orgulho em usá-lo ao entrar na Mesquita ;Mulheres muçulmanas sabem bem que o seu lugar não é no altar...Mulheres muçulmanas obedecem ao Profeta que as mandou não falar na Mesquita e ser submissas aos seus maridos; Mulheres muçulmanas adoram Alá ;Mulheres muçulmanas andam modesta e decentemente vestidas;Mulheres muçulmanas não usam tatuagens;Mulheres muçulmanas não são vaidosas;Mulheres muçulmanas abominam o aborto, o pior e mais monstruoso dos crimes;Mulheres muçulmanas não praticam a contracepção artificial e só recorrem à natural em casos de gravidade (falta de recursos económicos);Mulheres muçulmanas querem ter muitos filhos;Mulheres muçulmanas não limitam o número de filhos em função da sua brilhante carreira profissional; Mulheres muçulmanas casam virgens, de preferência com nove anos como aconselha o Profeta; ;Mulheres muçulmanas vivem a castidade, seja qual for o seu estado de vida ;Mulheres muçulmanas não maculam o seu corpo;Mulheres muçulmanas preferem sempre a família à carreira;(...) Mulheres muçulmanas fazem todos os dias o exame de consciência;Mulheres muçulmanas confessam-se e SÃO PUNIDAS (...) ;Mulheres muçulmanas não devem ver programas imorais na tv; Mulheres muçulmanas não devem perder tempo a ler revistas cor-de-rosa;(...) , ;Mulheres muçulmanas não levam os homens ao pecado com as suas roupas imorais;(...) ;Mulheres muçulmanas lutam pela sua felicidade que é obviamente conhecer, amar e servir a Alá e a Sua única e verdadeira doutrima: o islão,sem a qual não há salvação.Que Alá me conceda a graça de um dia ser uma mulher muçulmana. Que Alá dê ao mundo muitas mulheres muçulmanas."
quarta-feira, outubro 15, 2008
memórias
Hoje ando a percorrer os cafézinhos da Alta, numa silenciosa peregrinação, num recolhimento absoluto, assombrado, meio á deriva , mas a seguir os passos da luz sobre o rio. De vez em quando um alegria inusitada vem do ar e do rio, da fome de estar viva, como de um animal de sangue quente que se prepara para hibernar, por momentos pouco me importa, porque embora não esteja, há momentos em que estou para além disso, para além disso tudo e compreendo, com uma lucidez acutilante como os afectos são armadilhas que nos enredam a vida, apenas isso, que explicam todo e não explicam quase nada, como num filme em câmara lenta.
Desembrulho o olhar, sonolento como um caracol ao sol de fim de tarde de outono, uma tarde fina e fria, em talhadas, num barzinho no meio das ruelas da universidade, um barzinho envidraçado para o rio, cheio de miúdos jovens envoltos em neblinas azuladas de nicotina. De repente fiquei com saudades minhas, de estar aqui sentada, algures, a discutircom os colegas direito civil, ou penal, na ilusão de inventar um lugar diferente ou mudar o mundo.
terça-feira, outubro 14, 2008
segunda-feira, outubro 13, 2008
domingo, outubro 12, 2008
Lido numa Caixa de comentários
Oito anos depois de os contraceptivos terem sido banidos, e apesar de entretanto a cidade ter outro presidente, a proibição continua a vigorar, tornando impossível às mulheres, especialmente as mais pobres, obtê-los. Num país onde há anualmente, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 800 mil abortos clandestinos (uma das taxas mais altas na Ásia), e onde 70% das gravidezes não desejadas acabam em aborto, segundo o Pro-Life Philippines (um grupo anti-aborto), as ONGs são obrigadas a distribuir contraceptivos de forma clandestina às famílias pobres.
Mas para o antigo presidente da Câmara e actual secretário de Estado do Ambiente, Jose Lito Atienza, os defensores do planeamento familiar são meras “vítimas da lavagem cerebral” do Ocidente, gabando-se de ter conseguido, com a proibição, ensinar às “inocentes e ignorantes” mulheres de Manila os “verdadeiros valores da família nas Filipinas”. Em Setembro deste ano, apelou à rejeição de uma lei que visa garantir o acesso das famílias a métodos de controlo da natalidade (e não prevê a legalização do aborto), afirmando que, se o diploma for aprovado, conduzirá à “falência moral” do país.
Fala a uma voz com a ICAR, que continua a considerar a pílula e o preservativo como “métodos abortivos” e classifica a lei de “dizimadora das famílias”. O arcebispo Paciano Aniceto, que preside a Comissão para a Família e a Vida na mui influente “Catholic Bishop’s Conference in the Philippines”, apuda os que querem garantir o acesso a métodos de controlo de natalidade de “propagandistas da cultura de morte”. A Lei que prevê o acesso das famílias a contraceptivos tem sido bloqueada pela ICAR, que tem tentado por todos os meios ao seu alcance impedir a aprovação do diploma.
Testemunho das devastadores políticas de Atienza e da ICAR em Manila, e monumento maior da política deste devoto católico, é o “Haven for Angels” (Paraíso para anjos), um cemitério criado por ele e a mulher para enterrar os fetos abortados que se encontram a pontapé pelas ruas da cidade. No documentário da BBC de 2003, “Sex and the Holy City”, citado pela Palmira, Atienza gabava-se de enterrar e baptizar “os fetos encontrados nas ruas, no lixo (…), nos passeios da cidade, não reclamados pelas suas irresponsáveis mães” - as mesmas a quem é negado qualquer acesso a meios de controlo da natalidade.
Um grupo de 19 mulheres (incluindo uma católica com sete filhos) apresentou no início deste ano uma acção judicial contra o Estado filipino, alegando que os casais têm o direito de planear quantos filhos querem ter de acordo com as suas convicções, e que a proibição viola a Constituição e as convenções internacionais. De acordo com uma sondagem de 2007 da organização Catholics for Choice, 77% dos filipinos são a favor do uso do preservativo no combate à SIDA, e 90 % dizem que votariam num candidato que apoiasse a introdução de meios modernos de controlo da natalidade, segundo um inquérito de 2007 do “Legislators’ Committee for Population and Development”, um orgão filipino.
sábado, outubro 11, 2008
Delírios
Gayzices
Uma das coisas mais divertidas na parafrenália tradicionalista é o gosto abusivo pelos rendilhados clericais, pelos brocados às florzinhas e uso de um grená escuro de péssimo gosto que me lembra imagens de lupanares novecentistas. Além dos anéis coruscantes, das luvinhas de várias cores, dos menéios cerimoniais, da presença inevitável de acólitos imberbes qual pequeno harém, vestidos igualmente de rendilhados suspeitos.
O ritual tridentino em si também não me parece lá muito viril, aquela coisa de homens a darem repetidos beijinhos nas mãos uns dos outros e as infindáveis genuflexões...
Não sei - entre este espectáculo e os palhaços...
Recentemente esta imagem panfletária de um amante da tradição levantou-me novas interrogações. Não apena o gesto ritual de levantar a saia do celebrante, algo que me parece embaraçoso, mas aquele dedinho espetado no ar...
Para a Teresinha e afins
sexta-feira, outubro 10, 2008
Reflexão para o dia de hoje
Extracto da Sentença que condenou a pena de prisão de um ano por violarem a lei da Integridade Racial da Virgínia o casal Mildred Jetter, preta e Richard Loving, branco, por se terem casado. Não foi há muito tempo.
A VERDADE
Por coincidência ou não, um Judeu chamado Yesuf, um rabino, apareceu por estes dias no Sínodo dos Bispos em Roma a falar da importância da palavra de Deus. Disse também uma frase que escandalizou os sacerdotes do templo e os fariseus da lei: Pio XII não deve ser tomado como modelo e não deve ser beatificado, já que não ergueu a voz ante a Shoah”.
Ou seja , o rabino disse que não deve ser posto no altar um homem que não teve coragem de erguer publicamente a voz contra um dos mais trágicos dos acontecimentos na história do século XX- o Holocausto ou a solução final.
A cobardia envegonhada do Pio XII ( eufemisticamente chamada de prudência) não teve a ver com o medo de represálias contra católicos, não. Pio XII tinha algumas simpatias suásticas porque para ele o verdadeiro inimigo da Igreja não era o nazismo mas o comunismo. Pio XII não tem desculpas. Fosse ele como João Paulo II e queria ver se alguém o calava contra o horror da solução final.
Eu, por mim, concordo com o Rabino judeu. Com este e com o Outro que não era nada prudente e gritava coisas por cima dos telhados. Por isso foi crucificado ao lado dos fracos.
quinta-feira, outubro 09, 2008
A VERDADE
Esqueçam isso tudo: para Ratzinger, se a queca não se arriscar a produzir bebés, estaremos «negar a verdade íntima do amor conjugal». Verdade essa que só pode ser violada em caso de «circunstâncias graves», através do método das temperaturas ou traquitana similar que, embora na corda bamba, respeite os «ritmos naturais de fertilidade da mulher», procurando assim não «perturbar o significado íntegro da doação sexual». Traduzindo: é-nos permitido coisar quando o ciclo da mulher não está virado para a procriação, pois aí podemos fazer de conta que estamos a respeitar não sei o quê, embora tenhamos feito contas para nos certificarmos do oposto.Não sei se me sinta ofendido ou divertido por esta visão da sexualidade e pelos infindos labores destes gerontes, entretidos em gongóricos jogos florais, a mil anos-luz da vida humana que tanto dizem glorificar."
Extracto daqui.
Irritações
Juro que se volto a ouvir :
- Então boa continuação!.....
Distorções
Durante um debate televisivo a propósito do referendo da despenalização do aborto, ficámos a saber que as associações ditas pró-vida defendem a criminalização de todos os tipos de aborto, incluindo por malformações congénitas graves e violação.
A mulher é um útero , uma espécie de incubadora biológica cuja única função é suportar gravidezes eficazmente.
Dito de outra forma - à sacralização do embrião corresponde sempre
a des-humanização da mulher e a sua coisificação.
Quando se fala de vida humana, a vida da mulher não entra nesta categoria.
E quando, excepcionalmente, se sacraliza a mulher, é apenas porque o seu embrião não é humano mas divino.
Nós, católicos, estamos familiarizados com o fenómeno.
Parir
Força, força, amor. Já o vejo. Já o vejo. Já nos vê. Levantei a cabeça, tu choravas, eu chorava, ele chorava, o quarto sangrava. Os internos que assistiam olhavam para nós fascinados. Era fascínio, espanto, era também alguma cegueira, causada pela luz imensa que se fez naquela sala. E para a qual eles não estavam preparados. Nem nós, mas nós pudemos chorar para limpar os olhos. Ainda hoje sinto um nó na garganta de felicidade. De cada vez que me lembro desse dia, desses instantes. As palavras são muito pouco e poderia estar aqui o resto do dia a debitá-las que pouco acrescentaria ao que já disse. Luz, acima de tudo é isso. Uma luz imensa, divina. Como se alguém muito grande e com uma mão muito grande, tivesse carregado num interruptor muito grande e acendido uma lâmpada muito grande. Foi de parir. Esse alguém e essa mão e esse interruptor e essa luz. Foi de parir. Ao parir assim, e parimos os três, faz-se essa luz imensa. Dá-se essa luz, diferente de dar algo à luz.
terça-feira, outubro 07, 2008
Novas famílias
Tarde fora, a comer um gelado com os meus filhos num centro comercial apinhado de gente, naquele ritual suburbano que os intelectuais criticam mas que mais tarde ou mais cedo cumprem. Ao nosso lado um casal troca beijos e carícias, perante a indiferença tolerante de todos. Ela é uma bela negra com um corpo deslumbrante – ele, tímido e deslumbrado, olha para ela completamente embevecida sob a franjinha loura tipo rebeld way. São os dois muito novos, estão enamorados e beijam-se longamente. Sorrio com a beleza do contraste da cor das mão dele – mãos translúcidas e brancas de menino da cidade a acariciar as mãos dela que enrijecem mais de negro enoveladas nas dele.
E, ao olhá-los lembrei-me logo que, se fosse há cem anos, poderíamos estar aqui a discutir sobre maldade intrínseca do casamento inter-rácico. A discutir assim .
E precisamente com o mesmo tipo de argumentos (as implicações biológicas e morais, a descaracterização do instituto sagrado do casamento, as misturas contranatura, as consequências terríficas para os filhos frutos da mestiçagem até, tenho a certeza, referência as leis divinas imutáveis. Haveria até criaturas perturbadas que equiparariam a possibilidade do casamento civil entre um branco e uma preta à legalização do incesto, à pedofilia ou à dissolução da família ).
Por tudo isto, acho que o casamento de homossexuais é uma questão meramente civilizacional e de direitos humanos.
E sim, o amor conta.
segunda-feira, outubro 06, 2008
Momento Zen do Dia
- Isso é uma coisa complicada de explicar a meninos da tua idade. Onde ouviste essa palavra?
- Mas explica mãe, quero saber.
- Bem, uma crise exsitencial é... é... olha, quando as pessoas fazem muitas perguntas sobre a sua vida, quem são, o que querem fazer, se se sentem felizes, essas coisas.
- Mãe, estou com uma crise existencial.
Peregrinações
Alguns eram crianças, bebés pequeninos embrulhados em mantas, os crânios calvos da quimioterapia e reluzirem de pasmo, crianças arroxeadas de sono e dor, algumas semidopadas empurradas disciplinadamente pelas freiras sopeiras de azul, uma procissão percorria a rua com pendões e fitas estranhas, pouco faltava para ouvir os cilícios a salpicar sangue, depois lembrei-me eu, talvez algumas dessas criaturas os usassem debaixo das vestes e tive um acesso de vómitos que só serenou quando saí daquele lugar que me pareceu amaldiçoado da hipocrisia e da dor humana sem solução.
domingo, outubro 05, 2008
Economia da alma
Um estudo inovador sobre alucinações visuais em doentes católicos com esquizofrenia revelou que a intensidade da crença religiosa estava consistentemente relacionada , não apenas com os conteúdos das alucinações mas também com a sua frequêcia: os doentes que referiam que a religiosidade era algo de muito importante nas suas vidas reportavam significativamente mais alucinações visuais.
A mesma correlação foi encontrada entre a intensidade de crenças religiosas e delírios catastróficos ( fim do mundo).
Tradismáticos
Uma das características das seitas religiosas, comum aos aparelhos políticos altamente ideologizados, é uma espécie de lavagem cerebral que faz com que , a médio prazo, os membros integrantes da seita passem a debitar o mesmo discurso, repetindo obsessivamente chavões idiomáticos (por vezes sem sentido, como mantras tribais), ou certas estereotipias verbais. Escutar um tradicionalista trémulo de paixão a vomitar imprecações contra o concilio, uma testemunha de Jeová recém-convertida, um carismático depois do exorcismo bíblico ou um quico a tentar catequizar-nos, é das coisas mais divertidas que podemos vivenciar. Já os da Opus são ligeiramente mais subtis e um pouco mais inteligentes exigindo da nossa parte mais firmeza, mas, subjacente, a mesma lengalenga pegajosa de ideias feitas que vão martelando na cabeça até subverter qualquer capacidade de raciocínio livre. Um pouco como o que faziam nos regimes ditatoriais marxistas, com as suas confissões públicas e privadas, controle de consciências, devassas da vida privada e da liberdade interior.
De notar que a alienação mental resultante destes processos se revela em primeira mão na linguagem e nos discursos. As estereotipias verbais ( repetição abusiva e quase mecânica de chavões fabricados com significados estranhos ao interlocutor) revelam uma rigidez mental e uma inadequação à realidade que se exprime na completa incapacidade de diálogo.
Curiosamente as estereotipias verbais são um dos sintomas de doenças mentais graves, como a esquizofrenia ou o autismo.
sexta-feira, outubro 03, 2008
Momento Zen do dia
O dia mais feliz da minha vida foi o dia em que nasci!
O dia mais infeliz da minha vida foi o dia em que a minha bisavó Maria morreu.( Anotações à margem.
(Mas ó filha, porque escreveste que foi o dia em que nasceste se não te lembras? Estava á espera que te lembrasses do dia de anos, ou de um dia em que recebeste uma prenda especial, daquela tarde em Veneza, do natal do ano passado, da praia, do dia me que nasceu o mano…
- Pois, mas se não tivesse nascido naquele dia não tinha esses dias felizes todos.)
A extrema direita portuguesa anda preocupada com a criminalidade.
Felizmente os tribunais estão actuantes.
Ficamos sempre descansados quando os criminosos são punidos. Estamos a falar de criminalidade violenta - crimes de discriminação racial, coacção agravada, detenção de arma ilegal, ameaça, dano e ofensa à integridade física qualificada.
Divórcio e liberalismo económico
Ao contrário do que lamuriam algumas alminhas ingénuas, a principal dificuldade que as famílias enfrentam ( e nisto incluo todo o tipo de famílias ) e o consequente aumento do Divórcio não tem a ver com enquadramentos legais sobre o instituto jurídico do casamento mas com a organização social dominante resultante do processo de trabalho.
Dito de outra forma - a revolução tecnológica, o capitalismo selvagem e o neoliberalismo trouxeram uma completa reconfiguração das relações de trabalho e da clássica distinção entre vida pública versus vida privada: neste modelo económico, dominante nas sociedades industrializadas, o indivíduo deve apenas produzir – é esse o seu objectivo existencial.
A esfera da vida íntima e pessoal, onde se incluem as relações familiares, as experiências de afecto e solidariedade, o enamoramento, a parental dade ou a pura experimentação do hedonismo e da alegria de viver são colocadas para segundo e terceiro plano face às exigências profissionais. Trabalha-se a tempo inteiro, 24 horas por dia, numa exaustão de recursos pessoais e existenciais, até ao limite. São as leis do mercado. E o mercado é Deus, como todos sabemos. Infalível, como diria o JCN e com leis imutáveis. è tudo uma questão de Fé.
As estatísticas de divórcio ai estão a confirmá-lo.
E a solidão humana explica que o transcendente mercado forneça bens de consumo de carne - o tráfico humano é dos negócios mais lucrativos da economia global.
quarta-feira, outubro 01, 2008
Racismo e fascismo católico
Tradismáticos e Carismáticos - duas faces da mesma moeda
É possível ficar-se pela rama do pietismo romãntico e ser-se cristão?
È possível alimentar esteticismos estéreis sem consequências práticas concretas do encontro com o outro e ser-se cristão?
É possível alimentra um conservadorismo serõdio em função de normas abstractas, sem ter em conta as pessoas e ser-se cristão?
È possível usar a religiosidade como catarse de solidão e evitamento dos outros e ser-se cristão?