Teodoro, monárquico dos quatro costados, como comprovava o bigodinho retorcido e hasteada à custa de laca-de-cabelo das senhoras, excitava-se sexualmente com citações em latim.
Na lista de parafilias da DSM IV R tal transtorno não aparece especificado, mas Teodoro, para consumar a erecção, necessitava sempre deste estímulo sensorial específico. Esgotadas as aulas de latim onde se acotovelavam apenas dois estudantes esquálidos, Teodoro ingressou em estudos literários na Universidade, o que lhe permitia um contacto permanante com as declinações. Isto depois de ter colocado de lado os estudos jurídicos (só por causa dos parcos aforismos em latim, está visto). Os textos envelhecidos eram afrodisíacos que buscava em alfarrabistas obscuros, com a mesma obsessão doentia com que os velhos da sua idade frequentam as sexshops. De vez em quando, uma acompanhante contratada sussurrava-lhe ao ouvido palavras antigas de latinices extremas. A arte de amar de Ovídeo, na língua morta original, garantia-lhe orgasmos rápidos e frustrados.
Mas o lenitivo absoluto foram as longas celebrações religiosas em latim. Aí o êxtase era garantido, ainda por cima de graça. Não, não falo da Graça Divina mas da absoluta gratuitidade da coisa - Teodoro não tinha que pagar a ninguém para gozar longuíssimas erecções de duas horas.
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