domingo, fevereiro 19, 2012

Os direitos das mulheres em alturas de crise económica

Quando se conjuga a maior crise económica de cem anos,  o desemprego a subir em flecha e dicursos prónatalistas, já sabemos o que aí vem por parte do conservadorismo histriónico católico.
A ideia é básica e simples -  para ultrapassar a crise, as fêmeas devem ficar restritas ao giniceu doméstico e reduzidas à sua função procriativa, como as vacas. Sagradas ou não, não passam de vacas.

No entanto, não é este o pensamento católico:
"Obrigado a ti, mulher-trabalhadora, empenhada em todos os âmbitos da vida social, económica, cultural, artística, política, pela contribuição indispensável que dás à elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, a uma concepção da vida sempre aberta ao sentido do « mistério », à edificação de estruturas económicas e políticas mais ricas de humanidade." João Paulo II

Inútil será recordar a estes paspalhos esclerosados que as mulheres sempre trabalharam (no campo, nas ruas, e, mais tarde,  a partir da revolução industrial, nas fábricas) enquanto pariam e  criavam filhos ao mesmo tempo. A ideia da mulher doméstica dedicada aos folguedos da maternidade foi uma invenção recente de um determinado grupo social restrito. E, mesmo assim, as "mães devotadas" da burguesia, as tais "mães a tempo inteiro", viam-se livres das crias assim que as pariam, e entregavam-nas aos cuidados de amas que as substituiam inteiramente enquanto voltavam  ás alegrias da socialite.
A invenção da maternidade vivida e plena é recente - muito recente. a “invenção da maternidade” faz parte de um conjunto de influências que afetaram as mulheres a partir do final do séc. XVIII: o surgimento da idéia de amor romântico; a ideia  do lar,  e, mais recentemente, com  o  declínio do poder patriarcal e o maior controle das mulheres sobre a criação dos filhos. De resto, nas sociedades ocidentais no final do séc. XIX  o número de abortos como meio de limitar os nascimentos era catastrófico quando comparado com os números de hoje.
A maternidade plena surge lado a lado com a afirmção dos direitos das mulheres, com a possíbilidade da contracepção eficaz, com a drástica  baixa da mortalidade infantil com a  descoberta da infãncia e dos direitos das crianças. Tudo conquistas do século XX.
E sim, hoje somos cidadãs a parte inteira, mas, nunca esqueçamos, nada está garantido para sempre."

Sem comentários: