quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Da minha janela

Da janela da sala todos os dias vejo os magotes de turistas que peregrinam para Pére Lachaise.
Nas primeiras semanas, mal me apercebia deste tráfego humano, embalado na corrente  que palmilha as ruas de Paris e desemboca nos locais mais absurdos.
Aos poucos, fiquei a conhece-los e a fazer pequenas apostas mentais sobre os túmulos que procuram. Os amantes de Tom Morrison (cuja campa sempre cheia de flores, sobretudo rosas, velas e restos de mortalhas de haxixe) serve de palco a cantores improvisados, são em regra estudantes muito jovens e alternativos, com violas, rastas, cães e instrumentos musicais de todo o tipo. São sem dúvida a fauna mais animada.De resto o túmulo de Jim deve ser dos mais procurado,a julgar pelas setas informais desenhadas a canivete nas outras sepulturas, a indicar o caminho. Os seguidores de Alain Kardec, são em geral mais velhos, arrastam-se vestidos de escuro, circunspectos e um pouco soturnos, à excepção de algum grupo perdido  de brasileiros.
Os amantes da literatua, em geral de meia idade, buscam as campas de Balzac, Proust, Oscar Wilde no meio do labirinto dos mortos. Tudo animado pelo mais terno silêncio campestre em que, sem se darem  conta, as pessoas moderam o tom de voz.
Nos últimos anos, proliferam bandos de Emos, jovens pálidos e olheirentos e carregados de drogas, vestidos de negro estilo anos oitenta misturado com o revivalismo romântico novecentista. Adoram mortos, cremações, cemitérios, deslocam-se aos pares de casais esquálidos, e ultimamente, por influência dos êxitos de bilheteira dos filmes de vampiros, começam a multiplicar-se lotes de criaturas juvenis que cultivam a estética e cultura vampiresca. Esses procuram o mausoléu da princesa Démidoff-Strogonoff , uma garantida vampira.

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