sábado, março 12, 2011

a margarida precária

Encontrei a Margarida à saída do jumbo. Veio cumprimentar-me, bem disposta. Hoje é sábado e está na secção de venda de produtos de jardinagem. Ganha bem, no Jumbo, mais de mil Euros por mês, limpinhos.
A margarida há dois anos que acabou a licenciatura em  Língua e Literatura. Entrou com uma média de 9,5, ou seja, muito a custo e esgotadas outras possibilidades.
 Com esforço foi fazendo as cadeiras. Claro que Bolonha ajuda muito - a maior parte delas foi avaliada com trabalhos medíocres mais ou menos plagiados da net. Mais uns seminários e trabalhos em grupo e a coisa está feita.
A média de saída é quase tão miserável quanto a formação académica da margarida - da última vez que a acompanhei numa tarefa profissional apercebi-me, aterrrada, que praticamente não sabe interpretar um texto. Ou seja, pertence àquele grupo dos analfabetos funcionais licenciados que pululam por aí a exibir diplomas. Conversar com ela sobre literatura é uma experiência extraordinária. A margarida pouco ou nada leu na sua curta vida - e da meia dúzia de  autores que conhece o nome, nunca leu um livro inteiro. Sínteses de obras literárias com sumários e análises "literárias" empacotadas foi o que consumiu na faculdade. Sim, na faculdade, onde se licenciou à pressão, em três anos, com nota mínima. A geração mais bem preparada de sempre e tal.
Margarida não vai à manif dos rascas. Tem mesmo de trabalhar. Os pais são demasiado pobres para lhe aguentar mais uns anos de parasitismo. No Jumbo, no fim do turno lê  a revista caras. Sonha com os vestidos e as passerelles da moda lisboa. Gostava de dar aulas de português, diz-me ela no meio dos bonsais (só a ideia arrepia-me).  Mas nunca leu um livro do lobo antunes , do saramago ou do eça de queiroz, do almeida garrett ou do alexandre herculano. São  uma seca. Já o paulo coelho sim, consegue-se ler , e a florbela espanca que até escreveu um poema para os trovante.
Eu acho que a margarida está muito bem na secção dos bonsai.

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