quarta-feira, março 09, 2011

Mães

Em certos países do oriente, há um estranho costume para celebrar as mães.
Nesse dia, todos os que ainda têm mãe viva, crianças, adolescentes, jovens , adultos, e até alguns afortunados velhos,  usam uma flor vermelha na roupa, numa garridice festiva. Aqueles cuja mãe já morreu colocam uma flor branca, e assim, nesse dia, a multidão que circula pelas ruas carrega no corpo o estranho destino da orfandade partilhada ou a euforia da mãe presente, contagiada em risos festivos e piscadelas de olhos.
Um turista acidental, a quem colocaram um raminho com uma flor branca ao pescoço, primeiro pensou que fosse um gesto qualquer de boas vindas. Depois explicaram-lhe que era um costume local, e que atendendo à sua idade, o tinham presumido orfão. Ao andar na rua a tropeçar em tantas outras flores  brancas , nos olhos arregalados de dó que convergiam numa estranha irmandade, crianças de colo, miúdos esgalgados de olhar parado, mulheres prenhas de flor branca no corpete, homens enrugados de branco, e em todos a mesma solidão sem termo, o mesmo ar embasbacado de quem foi largado no mundo, a morte definitiva da solidão maior, chorou desesperadamente, do alto dos seus setenta anos.

Nunca em toda a sua vida sentira tanto a falta da  mãe.

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