"Obviamente, Bento XVI quis dizer o que diz no livro: mantendo a oposição oficial ao uso do preservativo, admitiu a sua utilização "em certos casos". Soam, por isso, a afirmações de mau perdedor as daqueles que vêm agora relativizar o que disse o Papa, afirmando que se trata apenas de repetir a doutrina.
Sim, Bento XVI não disse nada de novo em relação ao que muitos dizem na Igreja. Mas sim: o que ele disse é novo na boca de um Papa e isso dá-lhe uma grande carga simbólica que não pode ser ignorada. Habituados que estávamos aos pronunciamentos de João Paulo II e do próprio Bento XVI sobre a matéria, esta declaração muda a forma como a doutrina oficial católica é apresentada.
2. Isto dito, continuam a ser certeiras as palavras do teólogo espanhol Juan Masiá, que dirigiu cátedras de bioética católica em Madrid e no Japão: "No caso - meio cómico, meio anacrónico - à volta do preservativo: não se sabe se havemos de rir ou chorar. Nem sequer tinha que ser problema. Não só como prevenção de contágio, mas como anticonceptivo corrente (...). A teologia moral há muito superou esse falso problema."
A história, de facto, podia ser outra e o preservativo já deveria ter deixado de ser um problema para a doutrina oficial católica há 40 anos - o Papa Paulo VI nomeou uma comissão para redigir aquela que viria a ser a encíclica Humanae Vitae, sobre o planeamento familiar. As posições da maioria da comissão, aberta ao planeamento familiar "artificial", não agradaram a alguns cardeais da Cúria Romana, que não deixaram Paulo VI em paz enquanto este não refez a comissão, de modo a manter a doutrina tradicional.
A tragédia destas quatro décadas, com tanta gente que abandonou a Igreja por causa das muitas decepções, nomeadamente no campo da moral, evidencia a forma como aquela foi uma oportunidade perdida. "
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