domingo, novembro 14, 2010

A realidade é sempre mais estranha que a ficção

A campa da menina Guidinha refulge fulgores marmóreos depois do banho de lixívia da Clementina.
É assim uma vez por ano, em véspera de finados. Clementina chega ao cemitério carregada de esfregões, uma escova de crinas e umas boas litradas de lixívia e esmera-se a manhã inteira a dar lustro ao mausoléu da família do antigo patrão, onde jazem a guidinha, o senhor afonso, a dona maria da graça e o irmão mais novo da guidinha, o seu adorado  manel que morreu tão novo.
Quase sempre a clementina encontra flores  em cima da campa. Varre-as cuidadosamente para um saco de plástico que traz  no bolso do avental. As flores ainda estão frescas, mas são flores sem viço nem pedigree, atadas com um pequeno cordel e deixadas sempre ao lado do retrato da menina guidinha.
Só há uma pessoa no mundo capaz de deixar ali flores daquelas e clementina sabe quem é.

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