quinta-feira, setembro 30, 2010

A revolução

Desde o fim do verão que as funcionárias da empresa descobriram o facebook. A dona branca, da secretaria, pediu ao filho que lhe abrisse uma página nas redes virtuais e aderiu ao frenesim da farmville com aquele sentido de camponesa diligente que usa para transportar ofícios de um lado para o outro. Dona felisberta, a recepcionista, passa os intervalos das chamadas telefónicas debruçada no écran pasmado.
Num súbito surto informático, as empregadas de limpeza, os securitas, a contínua do primeiro piso, todos se puseram a inventar perfis com fotografias sorridentes onde se multiplicam convites. A dona ricardina despejou lustrosos pedidos de amizade a todos os engenheiros do departamento. A menina francisca da contabilidade suspira quando abre a página, à espera que o engenheiro amílcar da informática já lhe tenha adubado as plantas. O afonso, securitas nas horas vagas, não esteve com meias medidas e tratou de adicionar o presidente do conselho de administração - pedido pendente e sem resposta mas que ainda assim o faz andar mais hirto à porta da entrada onde patrulha imaginários rufiões. 
E assim o facebook trouxe uma escatológica revolução social  no quotidiano da empresa que nem os teólogos do Bloco de Esquerda sonhariam.
 O sonho de todos é que às fotografias das sardinhadas e jantaradas em calções de praia se possam juntar as fotos de gala das jantaradas oficiais dos doutores. Por isso, que interessa a crise ou os cortes orçamentais...Há um sorriso de leveza pelos corredores e secretárias. Afinal, não é todos os dias que se podem fazer amigos influentes, quase cumplices do cheirinho do poder.
Basta clicar  "ADICIONAR".

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