segunda-feira, novembro 10, 2008

Se não fosse esta certeza que nem sei de onde me vem,não comia, nem bebia,nem falava com ninguém. Acocorava-me a um canto,no mais escuro que houvesse,punha os joelhos à boca e viesse o que viesse. Não fossem os olhos grandes do ingénuo adolescente,a chuva das penas brancas a cair impertinente,aquele incógnito rosto,pintado em tons de aguarela,que sonha no frio encosto da vidraça da janela,não fosse a imensa piedadedos homens que não cresceram,que ouviram, viram, ouviram,viram, e não perceberam,essas máscaras selectas,antologia do espanto,flores sem caule, flutuando no pranto do desencanto, se não fosse a fome e a sede dessa humanidade exangue,roía as unhas e os dedos até os fazer em sangue.

António Gedeão

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