Foi uma viagem alucinante pelo interior da República-Checa até entrar na Aústria - no coração da cortina de ferro. O carro, pequeno e frágil, de vidros com manivela e sem direcção assistida, vibrava até aos ossos em cada buraco de estradas provincianas, campos imensos, terras de ninguém, trilhos de comboios onde passaram vagões carregados de judeus, as sombras dos judeus ainda lá estavam, os gritos dos vagões impressos na paisagem, um céu extraordinário a cobrir a planura do silêncio, casas de portadas de madeira fechadas a tamborilar solidões, mulheres tingidas de loiro a carregar sacos de compras, bordéis falidos ao fim da tarde, casinos fantasmagóricos no meio do nada numa imitação eslava de Lasvegas, os trilhos da guerra, o carro vermelho (forçosamente) a afadigar-se entre aldeias saídas de cenários de filme,
Parámos num posto fronteiriço abandonado, o arame farpado enferrujado e as guaritas das metralhadoras fitavam os campos, fitavam-nos a nós, completamente inúteis, saímos do carro e o silêncio era absoluto.
Um silêncio carregado de sangue antigo e histórias por contar.
- Vamos - disse eu ao meu amor. Já vimos tudo.
Sem comentários:
Enviar um comentário